Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

A HISTÓRIA DE HOJE: OBRIGADO PADRE MANUEL CRISTÓVÃO

Obrigado Pe. Manuel Cristóvão por tudo o que fez pelo povo de São Tomé e por todos estes anos que se dedicou, de alma e coração, ao serviço do seu tão querido povo de Santana que agora chora ao vê-lo partir.

Não o esquecerei nas minhas orações, e acima de tudo irei pensar naquele seu Bem Vindo a São Tomé dito com tanta alegria e sentido de acolhimento.

O que significou aquele Bem Vindo a São Tomé quando o cumprimentei? Umas boas vindas apenas e só para aquele tempo que aqui estou, ou um bem-vindo para mais tempo e para servir uma Igreja que tem tantas necessidades e que agora se vê privada de mais um dos seus obreiros?

 

Pe. Nuno Miguel Rodrigues | Missionário Espiritano

Há momentos na nossa vida que nos custa entender a vontade de Deus a nosso respeito. Este dia de hoje, é um desses momentos. Hoje foi o dia do tradicional passeio missionário dos sacerdotes, religiosos e religiosas e leigos que trabalham na Diocese de São Tomé e Príncipe. Dirigimo-nos todos em direcção à praia das Conchas que fica no distrito de Lobata, cidade de Guadalupe. Cada um foi chegando à medida que conseguiu. Houve oração da manhã e o Bispo diocesano, Dom Manuel António apresentou, em traços largos, o programa pastoral para este novo ano. A descontração e boa disposição eram evidentes. Foi entregue a todos esse tal programa pastoral, o evangelho diário dos Claretianos e eu ofereci um almanaque das missões dos Espiritanos. Findo este primeiro momento, todos se lançaram ao mar para tomar um belo banho nestas águas quentes de São Tomé. O primeiro, para dar o exemplo, foi o Sr. Bispo e eu logo de seguida pois ainda não tinha realizado o acto de purificação da mudança de ano que aqui em São Tomé todos fazem do dia 31 para o dia 01 de Janeiro. O chamado lavar o “velho”. Lavarmo-nos do homem velho e revestirmo-nos do homem novo.

E aos poucos lá foram entrando no mar os sacerdotes e irmãs religiosas bem como os leigos para o desenvolvimento de Portugal que estavam também entre nós. Não conhecia o Pe. Manuel Cristóvão mas aparentava-me ser o mais velho do grupo. Chamou-me a atenção o facto de ter entrado no mar com muita calma e logo percebi que era homem que sabia nadar muito bem pois estava à minha frente. A um determinado momento, reparei que estava a querer sair do mar e como nadava bem, nada me chamou a atenção. De repente só oiço o Pe. Luís, um jovem padre, a gritar por mim pois o Pe. Manuel estava deitado na água a boiar atrás de mim pois ter-se-á sentido mal. Corri e agarramos o Pe. Manuel trazendo-o para terra. Coloquei-o nos meus braços e tentei que deitasse fora a água que tinha engolido. Chamei por ele duas vezes e com voz trémula me respondeu. Começou a ficar muito roxo e comecei-me a preocupar. Entretanto veio uma jovem dos leigos para o desenvolvimento que ajudou a coloca-lo de lado ao mesmo tempo que ia saindo água. O pior estava para acontecer, quando deixamos de sentir os sinais vitais do nosso querido Pe. Manuel. Deixamos de sentir a pulsação e percebemos que deixara também de respirar. Muito depois chegaram os bombeiros, o que é de lamentar, e já o declaram óbito.

Todos nós presentes ficamos sem chão debaixo dos nossos pés na areia molhada pelas ondas do mar. Cada um reagiu à sua maneira e diante do sucedido os nossos olhos só se levantam para o Céu tentando perceber o que acontecera com o nosso Pe. Manuel Cristóvão. No meu coração de irmão sacerdote, em silêncio, dei-lhe a absolvição geral dos seus pecados pedindo a Deus que o acolhesse no seu Reino Eterno.

Com o Pe. Manuel nos nossos braços não resiste a convidar os que ali estavam, por perto, a rezarmos um Pai Nosso e uma oração a Nossa Senhora. Rezamos com as nossas vozes trémulas, mas com a certeza de que este querido pastor servidor desta Igreja, adormeceu na paz de Deus e se encontrava já no Seu Reino.

O nosso passeio missionário ficou por ali. Cada um veio para casa com um grande vazio de coração ao perceber que existe um antes e depois que nós não conseguimos controlar. A vida não nos pertence. É-nos dada por amor e a entregamos a Deus com a mesma atitude de gratidão.

Não me vou esquecer do Pe. Manuel Cristóvão pois antes de ter entrado no mar me perguntou quem eu era e me disse logo que fosse bem-vindo a São Tomé e Príncipe. E depois pelo facto de o ter tido nos meus braços naquele limiar que a nossa mente humana não consegue perceber. O estar e o deixar de estar.

Tudo isto me está a fazer pensar, mais que nunca. O que significou aquele Bem Vindo a São Tomé quando o cumprimentei? Umas boas vindas apenas e só para aquele tempo que aqui estou, ou um bem-vindo para mais tempo e para servir uma Igreja que tem tantas necessidades e que agora se vê privada de mais um dos seus obreiros? Como são grandes e insondáveis os desígnios de Deus a respeito das nossas vidas.

Obrigado Pe. Manuel Cristóvão por tudo o que fez pelo povo de São Tomé e por todos estes anos que se dedicou, de alma e coração, ao serviço do seu tão querido povo de Santana que agora chora ao vê-lo partir.

Não o esquecerei nas minhas orações, e acima de tudo irei pensar naquele seu Bem Vindo a São Tomé dito com tanta alegria e sentido de acolhimento.