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Domingo da Palavra de Deus: 15 ideias para 365 dias

A decisão de Francisco é particularmente apreciada pelos muitos cristãos conscientes da exigência de colocar no centro da sua vida de fé a Bíblia, Primeiro e Segundo Testamento, na convicção de que a leitura atenta, séria, crítica das Sagradas Escrituras está estreitamente ligada às suas vidas, oferece estímulos e suscita questionamentos, oferece clarões de luz e sacode surpreendentemente a rotina.

Andrea Lebra | In Settimana News | Trad.: Rui Jorge Martins

 

Por decisão do Papa Francisco, neste 26 de janeiro celebramos em toda a Igreja o primeiro Domingo da Palavra de Deus. Trata-se de uma decisão esperada, que tinha sido anunciada na conclusão do Jubileu extraordinário da misericórdia. A data tem uma vertente ecuménica, dado que entre 18 e 25 de janeiro assinala-se, no hemisfério norte, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

A decisão de Francisco é particularmente apreciada pelos muitos cristãos conscientes da exigência de colocar no centro da sua vida de fé a Bíblia, Primeiro e Segundo Testamento, na convicção de que a leitura atenta, séria, crítica das Sagradas Escrituras está estreitamente ligada às suas vidas, oferece estímulos e suscita questionamentos, oferece clarões de luz e sacode surpreendentemente a rotina.

Eis como um destes crentes leu os quinze parágrafos da carta apostólica “Aperuit Illis” (30/9/2019), com a qual o Papa Francisco instituiu, a partir de 2020, o Domingo da Palavra de Deus.

  1. Para conhecer Cristo e compreender a missão da Igreja.

A relação entre Cristo ressuscitado, a Igreja e a Sagrada Escritura é vital para a nossa identidade de cristãos. Sem o Senhor que nos abre a mente à compreensão das Escrituras é impossível compreendê-las em profundidade, mas o contrário é igualmente verdadeiro: sem a Sagrada Escritura permanecem indecifráveis os acontecimentos da missão de Jesus e da sua Igreja no mundo. A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo.

 

  1. Uma riqueza inesgotável a colocar à disposição de todos.

A riqueza da Palavra de Deus é inesgotável. É muito mais aquilo que nos escapa dela do que o quanto conseguimos compreender, e as belezas que a coloram são de tal maneira múltiplas, que aqueles que perscrutam podem contemplar o que mais preferem. O seu grande valor dever ser percecionado pelos cristãos na sua existência diária. Em cada comunidade sejam asseguradas iniciativas úteis para que na vida do povo cristão nunca falte a relação viva com a Palavra do Senhor, e todo o crente beneficie de um dom tão grande e empenhe-se a vivê-lo no quotidiano, testemunhando-o com coerência.

 

  1. “Lectio, meditatio, oratio”.

O Domingo da Palavra de Deus tem o objetivo, também através de ações emblemáticas, de fazer emergir a importância que, na vida de todo o crente, reveste a leitura diária dos textos sagrados, que se torna reflexão e se transforma em oração. A quem proclama a Palavra na liturgia seja fornecida uma preparação adequada.

 

  1. A Bíblia pertence ao povo.

A Bíblia não é só património de alguns, ou uma recolha de textos para poucos privilegiados. Ela pertence, antes de tudo, ao povo, convocado para a escutar com atenção e reconhecer-se nela com viva participação. A Palavra de Deus une os crentes e torna-os um só povo.

 

  1. Acessibilidade para todos.

Os pastores, tendo a grande responsabilidade de permitir a todos a compreensão da Sagrada Escritura, devem sentir fortemente a exigência de a tornar acessível à sua comunidade, também graças às homilias caracterizadas por uma linguagem simples e adaptada a chegar ao coração de quem a escuta, e a aquecê-lo. Para acolher a Sagrada Escritura não como palavra humana, mas, como o é verdadeiramente, Palavra de Deus, deve-se-lhe dedicar tempo e oração. Quem, na comunidade, desempenha o ministério de ajudar os fiéis a crescer na fé, sinta a urgência de se renovar através da familiaridade e o estudo das Sagradas Escrituras.

 

  1. Cristo é o primeiro exegeta.

A história da salvação, a começar por Moisés e pelos profetas, é única e encontra em Cristo o seu cumprimento.

«É necessário, portanto, não nos acostumarmos rotineiramente à Palavra de Deus, mas alimentarmo-nos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os irmãos e irmãs.»

  1. A fé provém da escuta.

O vínculo entre a Sagrada Escritura e a fé dos crentes é profundo. A fé deriva da escuta, e a escuta centra-se na Palavra de Cristo. Por isso, é urgente e importante que os crentes reservem escuta atenta à Palavra de Deus quer na ação litúrgica, quer na oração, quer na reflexão pessoal.

 

  1. Não um, mas 365 dias por ano.

A relação entre a Sagrada Escritura e a Eucaristia é incindível. A Igreja venerou sempre as Sagradas Escrituras, como o fez para a Eucaristia. À Bíblia seja dedicado não um mas 365 dias por ano, para que tenhamos a urgente necessidade de nos tornarmos familiares e íntimos da Sagrada Escritura e de Cristo ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes. Se não entra em confidência constante com a Sagrada Escritura, o coração do crente permanece frio e os olhos continuam fechados.

 

  1. Evitar interpretações fundamentalistas.

A transformar a Sagrada Escritura em Palavra via de Deus está a ação do Espírito Santo, graças à qual se evita o risco de toda a interpretação fundamentalista dos textos escritos, valorizando-se-lhe, antes, o carácter dinâmico e espiritual. A Bíblia não é uma recolha de livros de história nem de atualidade noticiosa, mas dirige-se inteiramente à salvação integral da pessoa.

 

  1. Ler e interpretar à luz do Espírito Santo.

A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada à luz do Espírito Santo, mediante o qual foi escrita. Deve-se, consequentemente, ter confiança na ação do Espírito Santo, que continua a realizar uma forma peculiar de inspiração não só quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura e o magistério a interpreta autenticamente, mas também quando cada crente faz dela a sua norma espiritual.

 

  1. Sagrada Escritura e Tradição: únicas fontes da revelação de Deus.

Antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé de um povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de outros povos. A fé bíblica funda-se na Palavra viva, não num livro.

 

  1. Doçura e amargura.

O Antigo e Novo Testamento possuem uma função profética, dizendo respeito ao hoje de quem se alimenta dessa Palavra, que ao mesmo tempo provoca doçura e amargura. A doçura impele-nos a participá-la a quantos encontramos na nossa vida, para exprimir a certeza da esperança que contém. A amargura é muitas vezes constatada na verificação de quanto é difícil vivê-la com coerência. É necessário, portanto, não nos acostumarmos rotineiramente à Palavra de Deus, mas alimentarmo-nos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os irmãos e irmãs.

 

  1. Misericórdia, partilha, solidariedade.

A Palavra de Deus apela ao amor misericordiosos do Pai, que pede aos filhos para viverem na caridade. O grande desafio colocado diante da nossa vida é colocarmo-nos à escuta das Sagradas Escrituras para praticar a misericórdia. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos para permitir-nos sair do individualismo que conduz à asfixia e à esterilidade, enquanto escancara a estrada da partilha e da solidariedade.

 

  1. Transcender a letra.

A Sagrada Escritura transcende-se a si mesma quando alimenta a vida dos crentes. Na compreensão dos diversos sentidos escriturísticos é decisivo colher a passagem, que não é automática nem espontânea, entre letra e espírito: é preciso transcender a letra.

 

  1. Familiaridade religiosa e assídua.

A partir do exemplo de Maria, reconhecida como «feliz» por ter acreditado no cumprimento que Deus lhe tinha dito, o Domingo da Palavra de Deus possa fazer crescer no povo de Deus a religiosa e assídua familiaridade com as Sagradas Escrituras.