Na vida da Igreja, a Sagrada Escritura ajuda-nos a compreender os mistérios da história da salvação, os mistérios de Deus e o lugar do homem neste horizonte de relação.
Hyley Bastos do Nascimento | Seminarista Diocesano
Falar sobre a importância da Sagrada Escritura na vida da Igreja, é voltar a raiz da fé cristã: a Palavra de Deus. Nesta linha, S. Paulo na segunda carta a Timóteo destaca o valor da Sagrada Escritura quando diz que esta é o sustento da fé. Nas suas palavras: “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3, 16).
Deste modo, quando falamos do lugar da Sagrada Escritura na vida da Igreja, importa frisarmos aquilo foram as observações do Concílio Ecuménico Vaticano II, aquando da promulgação da Constituição Dogmática Dei Verbum, pelo Papa Paulo VI, onde se afirma que “toda pregação eclesiástica, como a própria religião cristã, deve ser alimentada e regida pela Sagrada Escritura”, que constitui “alimento da alma e perene fonte de vida espiritual” (cf. Dei Verbum, 21). Este mesmo concílio retomou a afirmação de Santo Agostinho de que “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.
A este respeito, o Papa emérito Bento XVI, na Exortação Apostólica Verbum Domini, lembra que: “o lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja”. Esta afirmação não indica a referência eclesial como um critério extrínseco ao qual se devem submeter os exegetas, mas é uma exigência da própria realidade das Escrituras e do modo como se formaram ao longo do tempo.
Contudo, falar desta temática, desafia-nos para a observação de São Jerónimo, que nos recorda que sozinhos, nunca conseguiremos interpretar o âmago da Escritura. Isto é, recorda-nos que a pretensão de ler a Sagrada Escritura a nossa maneira, com um olhar meramente humano, corremos o risco de encontrar demasiadas portas fechadas e caímos facilmente no erro. Devemos ler a Sagrada Escritura com os olhos da fé e sob a inspiração do Espírito Santo com que ela foi escrita. Somente com o «nós», isto é, na comunhão com o Povo de Deus, que podemos realmente entrar no núcleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer.
A importância da Sagrada Escritura na vida da Igreja, não expressa pura e simplesmente a autoridade da Igreja sobre a Sagrada Escritura, como se tratasse de uma exclusividade, mas sim trata-se de afirmar que esta tem na vida da Igreja um lugar central. É por meio dela que se compreende a revelação de Deus e o seu agir na vida da Igreja. Por isso, a Sagrada Escritura na vida da Igreja, é a voz do povo de Deus peregrino que caminha para Deus e que tem uma ressonância harmónica com a fé da Igreja enquanto membro e Povo de Deus.
A Sagrada Escritura na vida da Igreja é o lugar e o modo de conhecermos a revelação de Deus. É um meio utilizado pela igreja primitiva para a divulgação do Evangelho cristão e para fortalecer a fé dos convertidos que através dos ensinamentos e dos valores cristãos, seguiam os passos de Jesus e acreditavam que as palavras da escritura os levavam ao encontro de Deus.
Na nossa vida quotidiana, vemos que a Sagrada Escritura continua a ser para a vida da Igreja um grande tesouro devido à sua contribuição para a humanidade na grande influência que exerce sobre a vida das pessoas. Por meio das suas narrativas, o homem se vê exposto diante de Deus; aceita a sua condição, reconhece os seus pecados e coloca-se numa atitude de escuta e de dinamismo de conversão.
Na vida da Igreja, a Sagrada Escritura ajuda-nos a compreender os mistérios da história da salvação, os mistérios de Deus e o lugar do homem neste horizonte de relação. Nas palavras de S. Paulo “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (cf. 2 Tm 3,15-17).
Deste modo, celebrar o mês da Bíblia e meditar sobre a importância da Sagrada Escritura na vida da Igreja é reconhecer que ela é uma realidade viva, vivida e experimentada pelo homem. A sua essência não está simplesmente nas palavras, ou nas especulações filosóficas que se pode fazer de Deus. A sua essência está nos acontecimentos, nos factos concretos e nos acontecimentos salvíficos das intervenções divinas que ao longo da história foram testemunhados pelas primeiras comunidades cristã e que graças a tradição oral chegaram até nós. A sua relevância passa pela tradição escrita que graças aos homens inspirados pelo Espírito Santo, narraram a história do povo e o agir de Deus que chegaram até nós e que foram testemunhados pelos profetas, pelos discípulos de Jesus e que no hoje das nossas vidas, os vemos realizar na vida da Igreja e na sua missão de continuar na terra os gestos e sinais de Jesus por meio dos sacramentos.
Em suma, podemos concluir que falar da importância da Sagrada Escritura na vida da Igreja, é reaprender com o salmista a dizer que a Sagrada Escritura é a “lâmpada para os meus olhos e luz para os meus caminhos” (cf. Sl 119). Ela continua a ser a bússola de conhecimento de Deus e guia para o homem buscar e cumprir a vontade de Deus. A Sagrada Escritura, dá sustento e vigor à vida da Igreja e é para os seus filhos a firmeza da fé, o alimento e a fonte de vida espiritual. Aliás, é precisamente a fé da Igreja que reconhece na Bíblia a Palavra de Deus; como admiravelmente diz Santo Agostinho, «não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja Católica».
Portanto, aproveitemos não apenas o mês de setembro, mas todos os dias, para criar maior familiaridade com a Palavra de Deus. Procuremos dar-lhe espaço de modo a que possamos descobrir o seu lugar na nossa vida e acima de tudo, coloquemos em prática o que a Palavra de Deus nos propõe. À exemplo de nossa Senhora, “que guardava tudo em seu coração”, guardemos a Palavra de Deus em nossos corações e descubramos a beleza e a centralidade da Sagrada Escritura na vida da Igreja que é a salvação de todos os homens.