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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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Ex 16,2-4.12-15; Ef 4, 17.20-24; Jo 6, 24-35

Quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”.

 

Depois da multiplicação dos pães, no último domingo, a multidão, no evangelho hodierno, põe-se à procura de Jesus e finalmente encontra-o junto de Cafarnaum. Mas, para aquelas pessoas que foram apenas em busca de uma vida terrena, isto é, como diz o Senhor, “porque comestes dos pães e vos saciastes”, Ele lhes faz olhar para muito além: “Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará”.

Aquele que deu de comer a multidão, agora  quer despertar uma outra fome nela, a fome por um pão diferente.  Na verdade, como disse o Papa Francisco, “para Jesus não é suficiente que as pessoas o procurem, Ele quer que elas o conheçam; quer que a busca d’Ele e o encontro com Ele vão além da satisfação imediata das necessidades materiais” (Angelus, 08.05.18).

A multidão ouve o convite do Senhor, mas não compreende o seu sentido — como acontece muitas vezes também connosco — e pergunta-Lhe: “Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?” Ou seja, “o que devemos fazer para ter este pão?

A resposta é surpreendente: “A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou”.  Em suma, Ele diria “consiste em acreditar em Mim, aderir a Mim. Sou Eu quem reabre os caminhos do céu, dá sentido, profundidade, força e encanto à vida.  Portanto, é necessária uma fé pura da vossa parte”, e não “porque comestes dos pães e vos saciastes”.

 E com isso, Jesus questiona a minha, a tua, a nossa fé ilusória: amamos a Deus ou os favores e o bem que Ele nos faz?  Abraão, nosso pai na fé, pai dos crentes, ama a Deus mais do que as promessas de Deus (cf. Rm 4,11-16); os profetas acreditam na Palavra de Deus mais ainda do que na sua realização.  E nós?  Amamos os dons que esperamos ou amamos o Doador?

 Pois, a multidão, ainda incrédula e sem ter compreendido, faz outra pergunta: “Que milagres fazes Tu, para que nós vejamos e acreditemos em Ti?” Eles pensam: “Moisés nos deu maná, mas o que Tu nos dás?” Jesus responde, mudando os tempos, do passado ao presente, do Sinai ao lago da Galiléia, e os atores: “Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu”.

 ‘Deus dá‘. Duas palavras muito simples, mas a pedra angular do Evangelho. Deus não pede, Deus dá. Deus não espera, não exige, Deus dá. Ele não dá pão em troca de poder, nem mesmo quer o poder sobre as nossas almas. Deus dá a vida ao mundo.  Ele dá primeiro, sem nada em troca, antes pelo contrário, perdendo. Deus dá vida.  Porém, nos cabe abrir, acolher, dizer sim, aceitar a Pessoa de Jesus Cristo na nossa própria vida, portanto, acreditar.

 E Jesus, de fato, declara: “Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”. Temos aqui “o motivo”, a revelação chave: o pão é o próprio Jesus, a sua Palavra, o seu Corpo. Em vez disso, aquele pão, que no Livro do Êxodo, Deus fez chover do céu para o seu povo no deserto, é a imagem deste verdadeiro pão, Cristo Senhor, “o pão da vida”, o “alimento que dura até à vida eterna”.

E a este respeito, disse Soren Kierkegaard (filósofo, teólogo e escritor dinamarquês do séc. XIX), “nada de finito, nem mesmo o mundo inteiro, pode satisfazer a alma humana que sente a necessidade do eterno”. Pois, queridos irmãos, a esta necessidade do eterno, a fome de vida, de eternidade que nos é conatural, só Jesus, “pão da vida”, pode satisfazer.

Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”. E esta é uma referência à Eucaristia, o maior dom que sacia a alma e o corpo. Quanto pão da Eucaristia é consumido pelos cristãos: há aqueles que se alimentam com fé, outros de forma rotineira e saem da igreja como entraram.  Saibais, porém, que o amor que se transforma em “hábito e costume” lento e miseravelmente acaba por sucumbir. E Deus é discreto, não protesta, mas não pode deixar de nos alertar: “não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos … revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus” (Ef 4, 17. 24).

Encontrar e acolher Jesus, “pão da vida”, em nós, portanto, confere significado e dá esperança ao caminho muitas vezes sinuoso da vida. Mas este “pão da vida” é-nos dado com uma tarefa, ou seja, para que possamos por nossa vez saciar a fome espiritual e material dos irmãos, anunciando o Evangelho por toda a parte. Com o testemunho da nossa atitude fraterna e solidária para com o próximo, tornamos Cristo e o seu amor presentes no meio dos homens.

Boa meditação e um abençoado “djàgingù da tudu nancê”. JB