Mt 18,21-19,21
“… quantas vezes deverei perdoar-lhe?”
Pedro, como nós, sabe, e bem, como é difícil perdoar! Ele como pecador, frágil e imperfeito, já tem a dificuldade de perdoar “sete vezes”. Agora, para o seu espanto, o Senhor fala de “setenta vezes sete”, em outras palavras, a única medida do perdão é perdoar sem medida, perdoar sempre.
Porquê perdoar quem nos enganou, nos mentiu, nos maltratou, nos difamou, portanto, quem nos fez mal? Há apenas uma razão: porque Deus perdoa, e, por conseguinte, somos convidados a usar o coração de Deus nos relacionamentos com próximo. Pois, o perdão sara, cura e restaura o próximo.
Somos chamados a perdoar “setenta vezes sete” como a condição para que sejamos também perdoados sempre por Deus, isto é, um convite, como dizia o Bento XVI, “a mesma atitude de misericórdia e amor que Deus tem para connosco: ‘perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’, dizemos diariamente no ‘Pai nosso’” (Audiência Geral, 15.02.2012).
E Jesus diz isso com a parábola de dois devedores. O primeiro devia uma quantia hiperbólica ao seu senhor e rei, algo como o orçamento de um pequeno estado, como o nosso São Tomé e Príncipe. Esse rei, piedade em pessoa, se identifica com a dor do servo e faz valer a mesma dor mais do que os seus direitos.
Para o mesmo rei, essa dor pesa mais do que o ouro, e perdoa o servo, aplicando a justiça divina que é dar cada um o que ele necessita (‘suum cuique indigere‘) e não o que lhe é devido (‘suum cuique tribuere‘).
Mas o servo recém-perdoado, “ao sair, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço, dizendo: ‘Paga o que me deves’”.
“Ao sair…”: não foi uma semana depois, nem no dia seguinte, pois, o Evangelho, diz “ao sair”, que significa, acaba de ser libertado, de ver restituída a sua liberdade e a sua dignidade, e experimentado o quão grande é o coração do rei… e não foi capaz de também perdoar.
Ele, que foi perdoado bilhões, diz, com violência, ao companheiro: “devolva os meus centavos …”. Mesmo que esteja no seu pleno direito de reivindicação, mas ele se revela um servo implacável e sem memória, porque não foi condenado pelo rei, antes pelo contrário, – repito – experimentou a misericórdia, à justiça abundante de caridade e perdão.
E perdoar significa – segundo a etimologia do verbo grego – deixar ir, cortar os laços que tendem a sufocar em dívidas sobre dívidas e laços sobre laços. E o servo implacável falhou em fazer isso. Quão complexa e estranha é a nossa humanidade!
Façamos nossa esta oração de aclamação ao evangelho: “Fazei brilhar sobre nós a vossa face e dai-nos a conhecer os vossos decretos”.
Boa meditação, caríssimos. JB