Mt 19,23-30
“… é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”.
A passagem do Evangelho de hoje é a continuação do de ontem. Jesus que desabafa diante dos discípulos a respeito da dificuldade de um homem rico entrar no Reino dos céus.
A dificuldade é tal, ao ponto de Jesus afirmar o seguinte: “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. E os discípulos admirados, chocados e consternados pela mesma afirmação, perguntam: “Quem poderá então salvar-se?”
Jesus insiste: “aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível”. Mas, “existe alguma coisa impossível para o Senhor” (Gn 18,14)? De facto, reconhecemos que Ele pode tudo (cf. Jó 42,2). E mesmo que seja impossível aos nossos olhos (cf. Zc 8,6), “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).
Caríssimos, o Reino não é um bem que se obtém ou se possui; devemos recebê-lo como um dom de Deus. Pois, estamos no coração da revelação do Reino e da escolha que ele exige (cf. Mt 16,23): ou morremos para nós mesmos, seguindo Cristo, para receber tudo de Deus ou impossibilitamos a vinda do Reino dos céus, perturbando a hierarquia de valores devido às riquezas fugazes deste mundo efémero.
Ademais, a riqueza não é uma questão de quantidade, mas de um peso para o coração. Também podemos nos apegar ao pouco, tornando-nos dependentes e até mesmo escravos. O Senhor, portanto, convida à liberdade interior, à ousadia, a abrir o coração à causa do Evangelho. O homem, rico ou pobre, não pode salvar a si mesmo, mas deve aceitar a salvação como um presente de Deus.
Mesmo assim, Pedro se lamenta: “nós deixámos tudo para Te seguir. Que recompensa teremos?” Ele pergunta não só para si, mas em nome de todos. A pergunta é humanamente compreensível, mas sem sentido, porque ele não tem em conta que a recompensa divina é sempre uma graça.
Seguir Jesus leva à partilha da sua glória no céu que é a prometida “vida eterna” – “receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna”. Lutero, comentando essa passagem num sermão de 1517, disse: “sem a renúncia das coisas, nada se consegue diante de Deus”.
Que o Senhor infunda em nós o seu amor, para que, amando-Lo em tudo e acima de tudo, alcancemos as suas promessas, que excedem todo o desejo.
Boa meditação, caríssimos. JB