Mt 22, 1-14
“…ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes“
Há uma grande festa na cidade: o filho do rei, herdeiro do trono, vai se casar, mas ninguém parece interessado, muito menos quem tem terras, bois e lojas, isto é, aristocracia e burguesia de então.
É o retrato do fracasso do rei que, no entanto, não desiste na primeira recusa, no primeiro não por parte dos seus convidados, mas repete o convite. Mesmo assim, todos se justificam e a festa corre o risco de acabar na tristeza.
É a história de Jesus, os convidados somos nós, que não percebemos o valor, a alegria de participar no banquete nupcial, o Reino dos céus. Muitos de nós, indiferentes, não têm tempo para Deus – “Eu tenho outras coisas pra fazer!” –, pensando que bastam a si mesmos, e não precisam de Deus.
Escravos dos seus ídolos – dinheiro, interesse pela fama, pelo poder, etc. – são absorvidos por outros compromissos. Ademais, o ídolo da quantidade muitas vezes pede o sacrifício da qualidade de vida. O ídolo do ter muitas vezes definha o nosso ser.
Caríssimos, ao escutarmos esta parábola, nos paira uma dor no coração. Pois, ainda são poucos os cristãos que escutam Deus como alegria, aqueles para os quais crer é uma festa. Como poderá a Igreja, Esposa de Cristo, apresentar aos homens do nosso mundo, sobretudo desta Europa pós-cristã, o incrível convite do Pai às núpcias do seu Filho?
Saibais disto, caríssimos: Deus não se cansa de nos procurar. Ele é solícito e generoso na sua misericórdia. Por isso, disse aos servos: “ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes” Não será mais a aristocracia ou a burguesia comercial, mas sim os simples e pobres. E com razão, Lucas, no seu evangelho, é explícito ao listar essas pessoas: “Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14,21).
O convite expressa a vontade precisa de chegar a todas as pessoas, sem exceção. Esta é a grandeza da bondade de Deus: de alguns privilegiados, Deus abre a todos, desde os importantes até os últimos da fila: “deixe-os entrar, bons e maus, justos e injustos”. É a terceira saída dos servos, a “Igreja em saída”, como diz o Papa Francisco, para procurar gente “sem importância”, desde que tenham fome de vida e de alegria.
Este ato de generosidade, porém, que deveria se tornar um modelo para os cristãos, tem uma implicação final surpreendente: a expulsão de um convidado. Este respondeu ao convite de Deus para participar do seu banquete, tem, de certa forma, a fé que abriu a porta do salão, mas falta algo essencial – “Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?” –, que é a caridade e o amor.
E S. Gregório quanto a isto afirma o seguinte: “cada um de vós, que na Igreja crê em Deus já participou do banquete nupcial, mas não pode reivindicar a veste nupcial se não guardar e praticar a graça da Caridade” (Homilia 38,9 : PL 76.1287).
Ademais, é urgente compreender bem o sentido do apelo a viver em Cristo, não basta a vocação para uma tarefa (“os chamados”), é preciso também cumpri-la com fidelidade e empenho para ser “escolhido”, isto é, admitido ao banquete final. Todos somos convidados pelo Senhor, a entrar no seu banquete com fé, mas devemos possuir e usar as vestes nupciais, isto é, a caridade, viver um profundo amor a Deus e ao próximo.
Sendo assim, peçamos a Ele que ilumine os olhos do nosso coração, para que conheçamos a esperança à qual Ele nos chama (cf. Ef 1, 18)
Boa reflexão, caríssimos. JB