Mt 24,42-51
“… estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem”
O evangelho hodierno fala-nos da eminente vinda do Filho do homem, motivo para o qual somos convidados a estar sempre preparados.
Sendo uma das leituras típicas do ritual fúnebre, a tal vinda vem assaz concebida como o fim desta nossa efémera vida, isto é, a morte, qual confim que, dando acesso a outra vida, segundo a fé, nos faz participar para sempre na vida de Cristo Ressuscitado, no corpo e na alma.
E cientes desta eminente vinda do Senhor, caríssimos, nos vem a certeza de que o tempo não é eterno … “o tempo abreviou-se”, como já nos admoestava S. Paolo (1Cor 7,29). Por isso, para a nossa santificação, se torna necessário que nenhum momento seja desperdiçado.
Pois, vivemos neste mundo que está grávido do outro mundo, isto é, carrega um outro mundo no seu ventre – o eterno. Assim sendo, toda a nossa vida cá se identifica como uma expectativa, um “já e ainda não” em plenitude, como argumentou o teólogo luterano francês Oscar Cullmann. E não estando ainda em plenitude, nesta expetativa, temos que ter cuidado para não nos perder, pois ela deve ser no amor.
“O Senhor vos faça crescer e abundar no amor uns para com os outros e para com todos”, diz S. Paulo (1Ts 3,12). Como diz um religioso canto italiano: “Passa questo mondo, passano i secoli, solo chi ama non passerà mai”, isto é, este mundo passa, os séculos passam, só quem ama nunca passará. Portanto, o esperar torna-se o infinitivo do verbo “amar”.
“Estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem”. Como “servo fiel e prudente”, estejamos preparados para não perder o encontro com um Deus que vem, não como ladrão, mas como um dom, como um Pai.
Vigilemos, caríssimos, mesmo que a noite da vida seja tenebrosa e assustadora, e que o medo do futuro ameace nos tirar a fé. Também sejamos vigilantes quando o desânimo nos assalta e, pela nossa fraqueza e imperfeição, cometemos erros, pensando que tudo acabou … estamos a tempo ainda de nos converter, porque, como disse São João da Cruz, “no entardecer da vida seremos julgados pelo amor”.
Para não termos “a sorte dos hipócritas”, vigiemos na quotidiana oração, não nos sobrecarregando de coisas, intrigantes relacionamentos e afetos. Estejamos atentos para não ficarmos entorpecidos com ilusões, procurando saber reconhecer a presença do maligno e não nos deixar seduzir pela sua voz (cf. 1Pt 5,8-9).
Portanto, vivamos cientes de que a vida não se consome inteiramente aqui neste mundo passageiro, e que o fragmento da luz que temos no coração é o início da eternidade, depois do confim que é a morte.
Boa meditação, caríssimos. JB