S. Agostinho (séc. V)
“Foste fiel em coisas pequenas: vem tomar parte na alegria do teu Senhor”
Hoje, Jesus nos conta a parábola dos talentos, na qual um homem que, ao partir de viagem, entrega o seu património aos seus servos – “… a um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um” -, com um só propósito: que os façam frutificar, que façam um bom investimento.
O que Jesus quer nos dizer com esta parábola? Deus nos doou, nos confiou os seus bens, o seu patrimônio genético, que é o amor, para que dê fruto em nós e por nós, para o crescimento do Reino.
Interessante é que Ele o faz com respeito, pesando bem as nossas reais capacidades – “… a um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um” – , sem esperar nada além das nossas forças.
Ademais, aquele que oferece dez talentos não é melhor do que aquele que traz quatro. Pois a balança de Deus não é quantitativa, mas qualitativa. Não medirá ou contará as nossas compras, as nossas realizações.
Para Ele, conta apenas a fidelidade, a assiduidade e a caridade com que teremos cumprido os nossos deveres, ainda que mais humildes e comuns, são levados em consideração. Isto é, Deus nos chama, como diz São Pedro, para sermos “administradores da sua multiforme graça, cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu” (1Pd 4, 10).
Dito isto, não seríamos ingratos, se agirmos como aquele servo “mau e preguiçoso” que por covardia escondeu talentos na terra? Pois, aquele servo mesquinho tem uma falsa imagem do senhor (de Deus). O pior é que ele não o ama. Tem medo de Deus, e o medo o paralisou, a ponto de se tornar incapaz, inativo, pra não correr nenhum risco. Então ele enterrou seu talento.
Caríssimos, Deus não é um cobrador de impostos ou banqueiro que quer os seus talentos de volta e com juros. Deus, concedendo-nos habilidades naturais, dons, vida e carismas, espera de nós uma resposta alegre, criativa, ativa, um compromisso que vem do amor e da nossa disponibilidade para correr riscos e enfrentar as dificuldades.
Diz-se que São João da Cruz (1542-1591), vendo que as pessoas se confessavam a ele, todas angustiadas, tristes, desanimadas e desesperadas de vida, no final da confissão, disse: “Tenha uma confiança contínua em Deus, estimando em ti e nos teus irmãos, o que mais estima o Senhor, isto é, os bens do espírito”.
Que, com a intercessão de S. Agostinho, o Senhor continue investindo em nós, nos oferecendo a sua confiança, libertando-nos da ansiedade do sucesso e concedendo-nos a serenidade do abandono total n’Ele.