Lc 4, 31-37
“… Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!”
Hoje, fala-se pouco ou quase nada do demónio. E ele não é uma caricatura, existe e é um ator que confunde o bem com o mal, a luz com as trevas. Parece impossível, mas ele, como “leão que ruge, anda à procura de quem devorar”(1Pd 5,8), de quem se apoderar.
E, hoje neste Evangelho, ele se apoderou de alguém, tornando-se aquele que reza na sinagoga, se veste como todos, se comporta como todos, afinal, aparentemente, é um bom fiel, por assim dizer.
Encontrando-se com Jesus, todavia, rebela e manifesta toda a raiva que carrega no coração – “Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir?”, porque, como diz, “eu sei quem Tu és: o Santo de Deus”.
Lucas, com esta narração , diz algo interessante e inquietante: é demoniaca uma fé que fica no conhecer, no saber, sem tocar, envolver a vida e contagiar; diabólica uma fé que não permite que Deus entre no dia-a-dia da vida, que, desconhecendo a humildade, justifica e persiste no erro; satânica uma fé que vê Deus como um adversário que veio para arruinar a situação de pecado que nos assola … esquecendo-nos que, diante d’Ele, o hábito jamais fará o monje.
Sendo assim, não basta frequentar uma igreja, um templo para ser discípulo, ser crente, ser “salvo”. É preciso que o que aí escutamos nos leve à conversão. Porque o risco de viver uma fé vaga e nebulosa está sempre presente. No entanto, Jesus cura, converte e muda profundamente. De fato, o homem entregue às suas forças não entende as coisas do Espírito de Deus (cf. 1Cor 2,14).
Saibais disto, caríssimos: a nossa impotência, as nossas limitações, aceites com um coração humilde e de paz, tornam-se espaço da onipotência de Deus que, até da nossa pequenez, pode tirar algo positivo. Diz o livro “Imitação de Cristo”: “Deus, se nos deixais, caímos e morremos; se nos visitais, nos levantamos e vivemos. Nós não somos senão inconstância e toda a nossa firmeza vem de Vós; nós não somos senão frialdade, mas Vós nos reacendeis e confortais” (Lib. 3, 14).
Portanto, deixemos que a Palavra de Deus ponha em evidência as nossas fraquezas, as formas desviantes de viver a fé para finalmente nos tornarmos discípulos como Ele quer.
Boa reflexão, caríssimos. JB