Lc 6, 39-42
“… pode um cego guiar um outro cego?”
Esta parábola do cego segue imediatamente o “ápice” do ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados” (Lc 6,36-37). Trata-se, portanto, de compreender que a cegueira consiste não só em não viver esses preceitos do amor, mas também em não reconhecer o seu não cumprimento.
É o exemplo clássico de quem não conhece a si mesmo, nem a Deus, porque, como homem, está repleto de fragilidade. Com frequência, são as pessoas presunçosas que se arrogam ser mestres.
“Pode um cego guiar um outro cego?” O que acontece se um cego guiar um outro cego? “Cairão os dois no buraco”, e ambos correrão o risco de perder a vida: um por ambição, o outro por inconsciência.
Ademais, os maus mestres, muitas vezes, são juízes impiedosos para com os outros e bondosos para consigo mesmos; eles olham para o cisco no olho do próximo e não se apercebem que têm uma trave no próprio olho.
Caríssimos, primeiro precisamos trabalhar nos nossos próprios traves. E então, talvez, seremos capazes de ajudar o outro, porém, se e só se este aceitar a tal ajuda sem impor condições.
E se a condenação do pecado é justa, aquele que a comete não deve ser julgado nem condenado. Até porque, se nós nos conhecêssemos a nós mesmos, evitaríamos de julgar e condenar os outros.
É necessário que o juízo seja feito sobre o mal e não sobre quem o tenha feito, pois este já é a primeira vítima do mal. Em vez disso, ele precisa de ser iluminado, ajudado e curado.
Reparai bem, caríssimos: se eu ‘não absolvo‘ o outro, continuo sendo escravo do meu juízo, rejeitando a ideia da misericórdia de Deus e, por isso, me condeno.
Pois, a propósito, Cardeal Carlos Maria Martini (1927-2012), biblista e considerado um dos mais progressistas cardeias da história da Igreja, dizia: “quando a força de Deus é rejeitada ou negligenciada por nós, oscilamos entre duas posições: um pouco no sentido de compreensão benevolente de tudo e um pouco no sentido moralista-deplorativo. Muitas vezes nos falta o olhar que sabe ver o mal do homem, mas com misericórdia”.
Portanto, com certeza, Deus verdadeiro já nos tinha admoestado: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
Boa meditação e bom fim da Semana, caríssimos. JB