Is 50, 5-9a; Tg 2, 14-18; Mc 8, 27-35
“Tu és o Messias… O Filho do homem tem de sofrer muito”
Hoje, Marcos, no seu Evangelho, leva-nos a rever toda a nossa fé em Jesus Cristo, Filho do homem e Filho de Deus.
“Quem dizem os homens que Eu sou?” Quem é Jesus? O que os homens dizem sobre Ele? Muitos O vêem como um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros, um admirável mestre de moral, que tinha uma interessante proposta de vida, mas não conseguiu impor os seus próprios valores; alguns, um guia corajoso, que acendeu a esperança no coração de uma multidão de pobres e necessitados, mas que saiu de moda quando o povo já não se interessou pelo fenômeno; outros ainda, um revolucionário, ingênuo e imprudente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e livre, tentando promover os pobres e marginalizados, mas foi eliminado pelos poderosos, ávidos por manter o seu “status quo”.
Interessante que, examinando todas essas visões, elas retratam Jesus como, então – “João Baptista; Elias; um dos profetas”-, um homem, ainda que seja um excepcional que marcou a história e deixou uma memória sem fim. Se regressa a pergunta: Jesus foi apenas um homem que deixou a sua marca na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
Ao preanunciar a imagem de Jesus, eis que o profeta Isaías, chamado por Deus a dar testemunho da Palavra de salvação, para cumprir a mesma missão, deve enfrentar perseguições, torturas, quase a morte. Porém, o que é extraordinário nele é que o profeta, em todas essas provações e tribulações, sabe que a sua vida não será um fracasso: “o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso … não ficarei desiludido. O meu advogado está perto de mim” (Is 50, 7-8). Ele nunca abandona o homem, permanece sempre fiel à Aliança estabelecida.
Sendo assim, se refaz ainda a pergunta, não mais para os que estão longe de Jesus, mas sim, aos seus íntimos: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Em nome de todos “Pedro tomou a palavra e respondeu: ‘Tu és o Messias’”. Dirigida aos discípulos, é a mim, a ti, a nós que a pergunta foi feita, e ressoa constantemente em nossos ouvidos e em nossos corações.
E respondê-la hoje não significa repetir as lições de catequese ou ensinamentos de doutrina cristã, não significa, como está na moda, colocar um “like”, … Jesus não procura palavras, Ele é a Palavra, por isso vai busca de pessoas; Ele não busca definições de si mesmo, Ele é a Vida, daí que quer oferecê-la aos homens. Então, responder a mesma pergunta deve nos estimular, como Pedro, a professar a nossa fé com a vida.
De fato, São Tiago nos diz na sua Epístola: “De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras?” (Tg 2,14). Muitos de nós recebemos uma catequese que insistia nos ritos, fórmulas, práticas de piedade e certas obrigações preceituais, que são, graças a Deus, boas, mas a síntese essencial é: seguir Jesus.
A partir deste mesmo seguimento, entendemos que o discípulo, para não ser satanás, é aquele que vai atrás do Mestre – “vai para trás de mim, satanás! -; que tenta compreender as coisas de Deus e não dos homens; que, ao segui-Lo, renuncie a si mesmo, tomando a sua cruz. Pois, ainda que o caminho da mesma Cruz nos faça conhecer Jesus como Messias sofredor, a Ressurreição O apresenta a nós como Redentor e vencedor da morte.
Ser discípulo, enfim, é fazer de Cristo a referência fundamental em torno da qual construir toda a nossa existência, é fazer com que a fé que professamos n’Ele tenha reflexos na nossa vida quotidiana. Por isso São Tiago nos adverte: “a fé sem obras está completamente morta” (Tg 2,17). E por falar nisso, diz Santo Padre, na sua Exortação ap. Gaudete et Exsultate, n. 61: “no meio da densa selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar dois rostos: o do Pai e o do irmão”. A nossa fé no Pai para estar viva deve ser seguida por obras para com o irmão.
Portanto, reconhecer Jesus como Cristo significa, não o que dizemos sobre Ele, mas sim, mais o que vivemos d’Ele, isto é: segui-Lo como Deus e Senhor da vida; acolhê-Lo mesmo na dor, considerando-O como o único que pode encher a nossa vida de alegria e felicidade, e testemunha-Lo aos outros.
Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù da tudu nancê”. JB