As relíquias de São Mateus, o cobrador de impostos que se tornou apóstolo e provável autor do homónimo Evangelho dirigido aos cristãos de origem judaica, encontram-se em Salerno (Itália).
O destino do seu Evangelho é curioso: por um milênio, acreditou-se que Mateus era o primeiro dos Evangelhos e que Marcos – mais curto – era o seu resumo. Na realidade, hoje sabemos que foi o próprio Marcos quem primeiro escreveu um Evangelho (anos 55-60 d.C.) e que Mateus (ano 70 d.C.) escreveu um texto semelhante ao de Marcos, mas com outras diferentes fontes.
A destruição do templo em Jerusalém (ano 70 d.C.) causou um choque nos cristãos de origem judaica, como se a Basílica de São Pedro em Roma fosse hoje destruída. Eis a resposta de Mateus: o templo já não existe, a presença de Deus já não está no templo, mas agora está Jesus, Deus connosco (cf. Mt 1, 23), vivo e presente na Eucaristia.
Mt 9, 9-13
“Segue-Me! … Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”.
O apelo feito a Mateus é o convite de Jesus dirigido a cada um de nós: “Segue-Me!”, escuta as minhas palavras, vive o amor misericordioso.
Mateus ou Levi (cf. Lc 5,27-32; Mc 2,14-17), como nós, é um pecador, ou melhor, é considerado um dos maiores malfeitores porque vive explorando os outros… “sentado no posto de cobrança de impostos”. Mas Jesus não olha para o seu passado, antes pelo contrário, Ele aponta diretamente para o seu futuro, para o que Mateus pode se tornar. Ele vê nele uma pessoa que, no segredo do seu coração, tem fome e sede de amor e de salvação, portanto, alguém que deve ser redimido.
E o cobrador de impostos deixa de lado a lógica de “deve e haver”, e vai atrás de Jesus, sem nada calcular, nem se perguntando para onde vai. Deixa todos, depois de ter conhecido o Tudo – “Segue-Me”. A pessoa de Jesus é a causa, o sentido, o horizonte; portanto, ele se converteu a Jesus porque viu Jesus “convertido” a ele. A fé é antes de tudo uma festa. Na verdade, a casa de Mateus encheu-se com seus amigos da folia.
E disto tudo, como não gloriar com Mateus e por Mateus? Daí a afirmação de Jesus: “não vir chamar os justos, mas os pecadores”. Pois, “prefiro a misericórdia ao sacrifícios”, dirá Ele. Religião não é sacrifício, nem a mortificação em si a louvar a Deus, mas sim, é comunhão e uma vida nova, aberta e entusiástica.
Sim, Levi, finalmente, aprendeu o que significa misericórdia e não sacrifício. Ele entendeu em primeira mão o que significa oportunidade de mudança. Porque, como pecadores, ninguém é digno de Deus, e se Ele vem a nós, livremente O acolhemos. Pois Ele vem em busca do pecador que sou, não para absolver uma lista de pecados, mas para tornar sua a minha fraqueza, ali se encarnar e recriar.
Bem-aventurada fraqueza, “pois, quando estou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,10). E Mateus teria dito como Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora… Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez”.
Nós também fomos e somos e seremos sempre chamados pelo Senhor para experimentar a cura interior. Ele usa as nossas experiências para se fazer presente, as nossas vicissitudes para atrair os que não acreditam. E saibais disto, caríssimos: os maiores milagres de Jesus não são aqueles que curam o corpo, mas aqueles que curam o espírito e transformam as criaturas temerosas em testemunhas invencíveis.
E assim, Ele o faz com Levi, que se tornará Mateus (Simão que se torna Pedro, Saulo que se torna Paulo, etc.); Ele o faz com qualquer um que se permite converter.
Que o Senhor, com a sua infinita misericórdia, venha ao encontro da nossa pobreza e pequenez, pois, meditando a vocação de S. Mateus, também almejamos ser pecadores perdoados.
Boa meditação, caríssimos. JB