S. Pio de Pietrelcina (séc. XX)
Lc 9, 7-9
“A João mandei-o eu decapitar. Mas quem é este homem, de quem oiço tais coisas?”
Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande, não se sente em paz consigo mesmo, depois de decapitar João Batista. Após “ouvir dizer tudo o que Jesus fazia”, uma pergunta perturbadora o inquieta e ressoa na sua consciência: “quem é este homem, de quem oiço tais coisas?” Batista ressuscitou dos mortos? Será Elias ou um dos grandes profetas aparecendo novamente?
A vinda de Cristo perturba a sua consciência, o torna curioso e até temeroso do seu poder. O poderoso monarca quer colocar tudo sob controle, para que nada escape das suas mãos. Por isso, “procurava ver Jesus”.
Ainda no mesmo Evangelho de Lucas, também do publicano Zaqueu, se diz que “ele procurava ver quem era Jesus” (Lc 19,3). Mas, quanta diferença entre o desejo de ver de um e o interesse do outro, que abismo entre a alegria de Zaqueu, que O acolherá em casa, e a cínica alegria de Herodes que “esperava vê-Lo fazer algum milagre” (Lc 23,8)!
Cada um de nós perguntaria a si mesmo: o que realmente move meu coração a “procurar ver” Jesus? A curiosidade de quem se apercebe como “baixinho” (Lc 19,3), frágil, imperfeito e carente de salvação ou o superficial capricho de quem quer tocar e de alguma forma gerir a graça de Deus por conta própria?
Há um critério para verificar a qualidade das nossas expectativas: se o contato com a Palavra cura os nossos desejos, as nossas expectativas e demandas; se a Palavra de Deus nos faz descansar em paz e serenos na certeza de que, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31), “se temos Deus, não nos falta nada”, como dizia Santa Teresa d’Ávila.
Caríssimos, a presença de Cristo na nossa vida, como podeis ver, não nos deixa indiferentes, nos impele a buscar a verdade, nos incita a examinar a nossa consciência sobre os nossos comportamentos.
E a este respeito, São Francisco de Sales vai além, afirmando o seguinte: “uma vez que tu encontraste e reuniste os teus graves pecados na tua consciência, detesta-os e rejeita-os com contrição e grande dor quanto o seu coração pode conceber, levando em consideração estes quatro pontos: pelo pecado tu perdeste a graça de Deus, perdeste o direito ao céu, aceitaste os tormentos eternos do inferno, e renunciaste ao amor eterno de Deus” (Filotéia I.VI).
Pois, deixando-nos guiar pela fé e pelo amor, mais do que pela curiosidade ou raciocínio humano, peçamos ao Senhor que converta os nossos corações da presunção e do orgulho, delineando o “Herodes” que está dentro de nós, que nos incita à curiosidade indiscreta e nos impede de aceitar o seu mistério.
Boa meditação, caríssimos. JB