Scroll Top
Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

IMG_5319

Num 11,25-29; Tg 5,1-6; Mc 9,38–43.45.47-48

Quem não é contra nós é por nós. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a

 

O itinerário de Jesus a Jerusalém é uma sucessão de ensinamentos e recomendações; uma espécie de manual catequético, que serve para clarificação contínua da fé, aquela fé aberta a todos e acolhedora de todos sem distinção, especialmente se destes provém o bem. 

E no presente evangelho, parece que João esteja desprovido deste raciocínio ao afirmar, “Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não andava connosco”. Um homem que libertava os outros do mal e os restituía a vida, portanto, fazia o bem, e queriam impedi-lo –  como dizia Josué, “meu senhor, proíbe-os”  (Num 11,28) -, porque não era um deles, seguidor do Mestre.

Para dizer a verdade, tanto Josué como João são porta-vozes de uma mentalidade estreita e sectária, feita de barreiras e muros, para os quais não conta a vida plena, a liberdade do homem, mas sim a defesa da identidade da seita, do grupo, o seu projecto, portanto, primeiro está a instituição depois a pessoa humana, a lei depois o homem, de modo que a doença deste pode esperar, a sua felicidade pode esperar.

Mas a Boa Nova trazida por Jesus não é um sistema de pensamentos ou ideologia, mas sim é a resposta a quem busca a vida.  O Evangelho é o fautor da liberdade, rompe as barreiras, anula as fronteiras, elimina diferenças e preconceitos, ninguém exclui, inclui todos como amigos e irmãos.

E o Senhor, de fato, surpreende os seus discípulos: “Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim”. Pois que quem ajuda o mundo a se libertar e a florescer é nosso, “não é contra nós, é por nós”. Semeias amor, curas as feridas do mundo, cuidas da criação? Então és um de nós. És um amigo da vida? Então pertences a Cristo.

Eis a definição de “homens e mulheres de boa vontade” para os quais São João XXIII, naquele tempo, se dirigia a sua encíclica Pacem in terris (58 anos atrás), isto é, aqueles homens e mulheres crentes ou não, que no entanto primam pela vida humana, são apaixonados por ela e capazes de fazer de tudo para colocar um sorriso no rosto de alguém. Eles seguem o Evangelho autêntico, mesmo sem saber, porque seguem o amor. Ademais, se pode ser de Cristo, sem pertencer ao grupo dos doze, sem ser homem e mulher da Igreja, porque o Reino de Deus é maior que a Igreja, não coincide com nenhum grupo.

Ah – diz João – “porque ele não andava connosco”!  Quão rígido é o sectarismo dos discípulos e discriminatório o seu espírito!  (…) Os discípulos, como nós, querem aprisionar a liberdade do Espírito, esquecendo-se que este sopra, como vento, sempre onde e como quer (cf. Jo 3, 8). Que não tenhamos intenção de usurpar ou sermos patrões de salvação, dada a nós por Cristo! 

Embora tenhamos responsabilidades e modalidades diferentes dentro da Igreja, temos apenas a tarefa de fazer encontrar, entre nós e aos outros, com o próprio testemunho (palavras e ações) a pessoa de Cristo. Por isso, aprendamos a regozijar com o bem e a agradecer pelo mesmo, independentemente de quem o fez e de quem provém.

Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8), diz-nos o Senhor, somos todos irmãos. E diante da invasão do mal, Ele conforta: neutralize o mal, “dando” um seu copo d’água, isto é, respondendo-o com o bem, e então tenha fé, pois ele não prevalecerá.  Se os copos d’água para os mais pequeninos viessem dos bilhões de pessoas que povoam o planeta, que oceano de amor se estenderia para cobrir este mundo! E apenas um copo já é suficiente para ser de Cristo!

Caríssimos, o Evangelho termina com palavras duras: “se a tua mão, teu pé, teu olho é para ti ocasião de escândalo, corte-os”. Nisto, Jesus realça e repete um adjetivo: tua, teu. Não dar sempre a culpa dos teus males aos outros, à sociedade, à infância, às circunstâncias. O mal se encontra escondido dentro de ti. “Conhece-te a ti mesmo” (Sócrates) e depois, em primeiro lugar, corte tudo o que retarda, prejudica ou atrasa o seu encontro com o Senhor, para que a sua mão não se agarre mais a nada nem a ninguém, mas aperte a mão direita de Deus confiando no Seu poder;  para que o seu pé não se perca nas veredas da morte, mas vá rapidamente em direção ao Senhor;  e finalmente para que os seus olhos sejam puros, um espelho resplandecente de um coração apaixonado por Deus e seu Reino.

Que o Senhor nos dê um espírito de tolerância e acolhimento para com todos, de modo a avaliarmos sem preconceitos e parcialidades o bem que está presente em cada um; e nos permita viver plenamente no seu seguimento, sem medo de “amputar” atitudes, palavras, conhecimentos e hábitos que não são em conformidade ao seu Amor.

Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù da tudu nancê”. JB