Santa Teresa do Menino Jesus (séc. XIX)
Lc 10, 13-16
“… Quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou”.
O Evangelho de hoje continua o tema da missão dos setenta e dois discípulos, missão muitas vezes árdua e não isenta de dificuldades, até à rejeição de Jesus e da sua mensagem de salvação. E “Ai de ti…” não é uma condenação, mas um grito do Senhor misericordioso que lamenta a nossa rejeição.
Deste mesmo grito o profeta Baruc faz uma sincera confissão: “Não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, apesar das palavras dos Profetas que Ele nos enviou; mas cada um de nós seguiu as inclinações do seu coração” (Br 1,21-22).
Por que não compreender neste sincero reconhecimento o nosso fácil distanciamento de Deus e dos seus caminhos, possíveis causas, a partir das quais podemos olhar para o desamor, para as injustiças, para o ódio que explode com ferocidade entre nós, no seio das famílias, da nossa sociedade, no mundo, onde a corrupção vai jazendo nas dobras das várias camadas sociais, dos pobres cada vez mais oprimidos, e os ricos que não param de querer ser cada vez mais ricos?!
E é precisamente confrontando, então, essas realidades nas cidades judaicas que ostentavam uma presunção de salvação, não aceitando a Boa Nova do Reino, enquanto as cidades pagãs acreditaram nela e se converteram, que Jesus quer fazer compreender aos guias do povo a enormidade do seu pecado que vai além do ato material, isto é, iludindo as pessoas, fechando-as os olhos diante da verdade, banalizando a dignidade e a liberdade humanas, até a exclusão de Deus da sua vida.
Por isso, é urgente acolher com força o grito de Jesus: um grito apaixonado de amor sem limites que quer chegar aos ouvidos e ao coração de cada homem, de cada mulher, com palavras de vida eterna, oferecendo a cada um a possibilidade de escolher Deus: “Quem vos escuta, escuta-Me a Mim; e quem vos rejeita, rejeita-Me a Mim. Mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou”.
E Santa Teresa do Menino Jesus não rejeitou, aliás, muito pelo contrário, escutando o Senhor, ela quis ser portadora da sua Palavra aos homens, missionária, reconhecendo-se num dos membros que compõem o Corpo da Igreja, assim afirmou: “Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, … no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor”.
E nós? Fazendo um exame de consciência e questionando-nos a nós mesmos, cada um de nós: “Persevero todos os dias na leitura da Palavra de Jesus, acolhendo-a nas pequenas e grandes escolhas do quotidiano? Como discípulo missionário, tenho dado testemunho desta mesma Palavra?
São Macário, o Velho, monge cristão egípcio e eremita, do século IV: “é necessário que cada um de nós vigie muito bem o seu coração, para que guardando nele a Palavra de Deus como um paraíso, possa usufruir da graça sem dar ouvidos à serpente”. Pois, caríssimos, é preciso estarmos vigilantes para não fazermos da fé um travesseiro confortável para dormir e daí, no pôr do sol da vida, recebermos a mesma repreensão do Senhor: “Ai de ti… Ai de ti…”.
Saibais que o risco da dormência afeta a todos e enfraquece o espírito. Daí que o amor a Deus e ao próximo deve ser proclamado com a vida, e sempre cultivado, caso contrário, o nosso ardor cristão desaparecerá lentamente.
Boa meditação, caríssimos. JB