Jo 5, 1-16
“Jesus perguntou ao paralítico: ‘queres ser curado?’”.
Ah, se ele gostaria! Ele está colado a uma maca há trinta e oito anos. Como dizer ‘não’ diante dessa oportunidade única que não acontece com todos e todos os dias? Seria então uma pergunta que quase soa como provocação para aquele homem forçado a ficar parado por tanto tempo.
Mas Jesus insiste. E se Ele faz isso, há uma razão – Deus sempre dá o primeiro passo em direção ao homem. E este é, antes de tudo, um enfermo “crônico”, e nele a esperança do futuro é quase extinta. E sem objetivos concretos, até o presente perdeu sentido. Sozinho e com suas limitações e fraquezas pessoais, ele nunca será capaz de sair dessa.
E isso é mais sério do que sua própria deficiência física. Se na samaritana Jesus desperta a sede de água viva (cf. Jo 4, 5-42), neste paralítico desperta o sonho de uma vida digna a que parece ter renunciado – “enfermo havia trinta e oito anos …, não tinha ninguém que o introduza na piscina … “.
Todavia, “aonde esta água chegar, tornar-se-ão sãs as outras águas e haverá vida” (Ez 47,9), e eis aqui a Palavra: “levanta-te, pega a tua enxerga e anda”. Instantaneamente aquele homem foi curado, mas com a recomendação de não pecar novamente, para que coisas piores não lhe acontecessem.
Também acontece de forma semelhante em termos espirituais, quando nos resignamos ao pecado. Assim, a vontade de purificação e a alegria desaparecem.
Caríssimos, Jesus quer nos curar profundamente. E Ele faz isso apenas se houver em nós uma firme vontade de ressurreição, e se criamos em nós disposição para o tal novamente.
É fácil ver o mal dos outros e querer eliminá-lo; é mais difícil ver o nosso e querermos se livrar dele. O mal alheio é julgado como deformidade, mas o próprio justificado como fragilidade. Mas “queres ser curado? … Pega a tua enxerga e anda”, diz Jesus e repete a todos os discípulos nos caminhos pedregosos e pecaminosos da vida.
A este respeito, disse Santo Agostinho: “Pega, pois, a tua enxerga. E quando a tiveres pegado, não pares, anda! Amando o teu próximo e interessando-te por ele, andarás … Traga aquele com quem caminha, para chegar a Aquele com quem deseja estar para sempre. Pegue, portanto, a tua enxerga e ande” (Comentário ao Evangelho de São João, homilia 17).
O tempo da Quaresma é o momento propício para um sério exame de consciência e para uma conversão verdadeira, sincera e duradoura. Jesus nos oferece reconciliação com o Pai e cura. Portanto, cada um de nós, escutando o Evangelho de hoje, deve encontrar a sua tarefa na Palavra de Jesus: “Levanta-te e anda, não voltes a pecar”.
Que o Senhor nos ajude a nos dirigir para Ele, conscientes das nossas limitações e da impossibilidade de sozinhos sairmos das nossas misérias humanas!
Boa meditação, caríssimos. JB