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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

5º Domingo da Quaresma – Ano B

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Jer 31, 31-34; Hb 5, 7-9; Jo 12, 20-33


“… S
e o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto.”

 

Jerusalém, para as grandes cerimônias da Páscoa judaica, torna-se um centro de atração também para os estrangeiros que por ali passam, portanto também para os gregos.  Para estes, como para todos na época, que se impressionaram com a grande popularidade de Jesus, a sua presença não passou despercebida.

E estando aí o Mestre, por que não aproveitar esse raro momento?  Daí o pedido: Filipe, “nós queremos ver Jesus”. Mais do que qualquer desejo aleatório, estamos perante uma vontade precisa e determinada.  Estes gregos foram interpelados do fundo do coração, e é uma inquietação típica de homens e mulheres de todos os tempos que vão em busca de Deus, portanto uma solicitude na qual também nós podemos nos identificar: “queremos ver Jesus”!

Pois, uma coisa a realidade dos escribas e fariseus que viram Jesus, mas não queriam saber d’Ele, outra é a realidade destes gregos que bramam olhar diretamente nos olhos de Jesus, o Senhor.  E a resposta de Jesus os projecta a um horizonte profundo: “se vós quiserdes Me ver, olhai para o grão de trigo;  “se vós quiserdes Me ver, olhai para a cruz”.  O grão de trigo e a cruz, duas imagens como síntese ígnea do acontecimento de Jesus, congregando em si encarnação, paixão, morte e ressurreição.

“Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”. Frase difícil e até perigosa se for mal compreendida, porque pode legitimar uma visão dolorosa e infeliz da religião.  Porém, mesmo que o verbo que salta imediatamente à vista, por causa da sua carga emotiva, seja ‘morrer’ e ‘não morrer’, a ação principal, entorno a qual tudo gira, para a qual tudo converge, e tudo se sustenta é o “produzir”: o grão produz um muito fruta.

Portanto, esqueçamos a morte, é a vida com a qual devemos lidar.  De facto, “chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado”… A glória de Deus não é morrer, mas dar muitos bons frutos.  Recordais-vos da frase de Santo Irineu: “A glória de Deus é o homem vivente”.  O Deus é o Deus da vida.

Caríssimos, saibais disto: cada situação pode, portanto, ser a mãe terra que nos acolhe para trazer à luz a nossa fecundidade, a mãe terra que nos guarda para fazer brotar de nós um novo milagre de vida.  A queda ao solo – às vezes tão difícil quanto a morte – é uma premissa de vida para quem sabe que é um grão de trigo, e pode se tornar uma entrega consciente como a que Jesus fez de si na sua hora.  Certamente não com uma atitude heróica, mas oferecendo as nossas “preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas”(Hb 5,7) ao Pai de Jesus, que conserva para a vida eterna cada vida a Ele confiada.

Sendo assim, o desejo dos gregos que se dirigiram a Filipe para ver Jesus teve seu cumprimento: “chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo; e quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim”.  Quem quiser ver Jesus, deve contemplá-Lo elevado da terra, sobre o madeiro da cruz.  Aqui Ele mostra uma glória tão diferente daquela que nós, humanos, estão acostumados a pensar e a buscar, dando crédito ao príncipe mentiroso deste mundo, que nos torna estranhos e rivais uns dos outros.

Uma coisa é certa, queridos amigos: Deus aceitou a morte porque todos os seus filhos vão ali.  Mas da morte Ele risorge como um germe de vida indestrutível e nos traz dali para fora com Ele.  Jesus é assim: um grão de trigo que se consome e floresce;  o crucifixo, onde já se respira a ressurreição.

Da cruz de Cristo flui, portanto, a luz que valoriza todo o sofrimento humano indissoluvelmente unido ao seu.  Agora sabemos que o pouso da nossa existência, a meta final passa pela cruz, mas nos garante uma eternidade abençoada.

Portanto, minha fé, a tua fé, a nossa fé é a contemplação da face do Deus crucificado.  “A Cruz não nos foi dada para compreendê-la, mas para nos agarrarmos a ela” (Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano alemão, mártir do nazismo): atraído por algo que não entendo mas que me seduz, agarro-me à sua Cruz, caminho atrás de Cristo, que morre para sempre, mas para sempre ressuscitando.  Que o Senhor faça com que não tenhamos medo de morrer, mas que possamos nos tornar um canal pelo qual Ele chega até os irmãos.

Boa meditação, caríssimos. JB