Jo 13, 21-33.36-38
“… um de vós há-de entregar-me… Não cantará o galo, sem que Me tenhas negado três vezes…”.
É o momento íntimo e solene da Última Ceia. A atmosfera desta reunião no Cenáculo, que deveria estar carregada de memória sagrada, é tingida com uma sombra escura de traição e negação por parte de dois dos apóstolos de Jesus, dois dos seus amigos mais próximos.
Apenas João voa “alto” como uma águia e percebe a catástrofe iminente. Ele, o discípulo que Jesus amava, inclina-se sobre o peito do Mestre (por isso que era chamado pelos Padres gregos ‘episthétios’, isto é, reclinado sobre o peito) e percebe as batidas daquele coração cheio de amor.
Jesus encara a sua morte, e os discípulos, em vez de olharem para Ele, aparecem distantes. Eles “olhavam uns para os outros” com uma curiosidade mórbida, para adivinhar quem era o traidor, esquecendo-se da sua própria incoerência interior. Até porque, menos que o amor pelo Mestre, eram mais perturbados pelo eminente colapso dos seus sonhos de glória humana.
Judas está delirando; ele está convencido de que está forçando a sua mão para fazer Jesus encontrar o Sinédrio, o Messias com poder. Em vez disso, Jesus tenta fazer com que ele desista, mas infelizmente ele já estava habitado pela noite misteriosa e satânica – “saiu imediatamente. Era noite”.
Santo Agostinho disse: “Judas saiu imediatamente. Era noite. Quem saía também era noite. E quando saiu aquele que era noite, Jesus disse: ‘Agora foi glorificado o Filho do homem’”(Comentário ao Evangelho de João, Homilia 62,6). Judas caminha para um destino de morte, apesar de Jesus lhe ter dado o “Pão” da comunhão.
Jesus também devia censurar Pedro pela sua presunção, sua frágil fidelidade, buscando “captatio benevolentiae”, acreditando-se melhor do que os outros – “Eu darei a vida por Ti” -, mas ainda sem saber da sua tripla traição. Na verdade, “não cantará o galo, sem que Me tenhas negado três vezes [Pedro]”.
“E era noite”! Também nós somos frágeis e muitas vezes a “noite” (do pecado, da traição, da negação, do mal) aparece na nossa história pessoal: mesmo nestas situações, Jesus, Luz das nações, como profetizou Isaías (Is 49,6), nos ilumina, está perto de nós, nunca nos abandona …
Ele não nos condena pelas nossas faltas, compreende as nossas fraquezas, só nos pede que nos arrependamos para nos reintegrar no seu amor, como fez com Pedro que chorou amargamente pelo seu pecado. Judas, por outro lado, se deixou levar pelo desespero e se enforcou. Ele teria se arrependido?
A missão de Jesus é sempre salvar aqueles que Lhe foram confiados. A fidelidade de Deus é maior do que o pecado e o poder do amor de Cristo vai além da traição. Não há “noites” que possam nos afastar de Deus para sempre, nem pecado que nos impeça de nascer de novo, a menos que seja um orgulho reincidente.
Que o Senhor nos liberte da apatia do espírito, de uma fé não fervorosa, da presunção de crer que somos perfeitos. Que perdoe a nossa fraqueza e covardia e nos sustenha no caminho da vida.
Boa meditação, caríssimos! JB