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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

QUARTA-FEIRA – SEMANA SANTA

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Mt 26, 14-25

“… o Filho do homem vai partir, como está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do homem vai ser traído!”.

Como ontem, ainda hoje, desta vez o Evangelho segundo Mateus, a liturgia da Semana Santa nos chama a atenção para a figura inquietante e sombria de Judas Iscariotes, o traidor.

“‘Um de vós Me trairá’. Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar Lhe: ‘Serei eu, Senhor?’”. Na vez de Judas, que finge perguntar, recebe uma resposta, que o confronta com sua própria liberdade, consciência e responsabilidade: “Tu o disseste”.

E Judas realmente consuma a sua traição ao vender Jesus aos príncipes dos sacerdotes por trinta denários, preço então de um escravo.

Mas quem foi Judas? Foi “ um dos Doze”, estava com Jesus, tornou-se seu discípulo, após apóstolo, escutou a sua Palavra, viu os seus milagres, gozou da sua amizade e confiança (era ecónomo, cf. Jo 12,6), meteu com Ele a mão no prato, portanto, comungou do mesmo Corpo. E face ao dinheiro – trinta denários, 10% do preço de perfume de nardo usado para ungir Jesus (cf. Jo 12,5) -, ele desiste de tudo!

O que, então, Judas queria alcançar? Talvez quisesse fazer com que Jesus se encontrasse com o Sinédrio, o Messias com poder, para empurrar Jesus a manifestar o seu poder? Quiçá …! Será que a decepção de ver desmoronar o seu sonho de glória humana tenha feito exaurir todo o seu amor por Cristo?

De facto, o famoso jornalista italiano Massimo Gramellini, no seu livro “Avrò cura di te” – “Cuidarei de ti” (2014), afirmou que “Uma traição só mata amores já mortos, enquanto aqueles que não morrem, às vezes tornam-se imortais”. “Ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído!”

Pobre Judas, que tanto se parece conosco! Trair Jesus não é tão difícil quanto parece: basta não acreditar no seu Amor, não nos permitir ser amados e perdoados por Ele pelas nossas pequenas ou grandes traições e seguir o nosso orgulho. E assim nós O “vendemos”, preferindo a Ele nossos confortos, egoísmo, sucesso, prazer, riquezas …

Portanto, lendo o Evangelho, nós também somos chamados a questionar, a nos perguntar quanto “vale o Senhor” para nós, a examinar a nossa consciência: nós que talvez pensamos que amamos o Senhor com palavras, mas O traímos com os factos cotidianos.

Por isso, pedimos a Ele que ‘não nos deixe cair na tentação’, e se nela cairmos, que nos ajude a tomar consciência da nossa atitude e das possíveis consequências, apegando ao seu amor terno e misericordioso, não fazendo como Judas, mas como Pedro arrependido, chorando amargamente, regressemos como filho pródigo a casa do Pai.

Boa meditação, caríssimos. JB