Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

QUINTA-FEIRA – SEMANA SANTA

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A SANTA CEIA

Ex 12, 1-8.11-14; 1Cor 11, 23-26; Jo 13, 1-15

“… amou-os até ao fim”

Jesus passa as últimas horas da sua vida terrena na companhia dos seus discípulos. O Mestre manifesta um amor extraordinário pelos apóstolos – “… amou-os até ao fim” -, transmitindo-lhes ensinamentos e recomendações por palavras e obras.

E destas últimas, coisas nunca antes vistas: Jesus lava os pés dos seus discípulos, uma tarefa humilde reservada aos servos quando o patrão regressava à casa, depois de um dia de trabalho. Lavar os pés, porém, não era apenas um dever servil; foi também um gesto de afeto de um filho para com o seu pai. Enfim, é um gesto que, mais que o dever, prima pelo amor, no qual o Senhor quer dizer tudo de Si.

Digo, porém, que o gesto, além da possibilidade de incompreensão e surpresa, também escandaliza. Mas as palavras de Jesus vêm abalar o torpor humano: “o que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde”.

Reparai bem caríssimos: Ele não está falando somente ao Pedro, mas também a nós, homens do século XXI, que muitas vezes participamos à missa, com a presunção que estejamos a compreender o dom misterioso e inconcebível que se renova diante de nossos olhos, mas prontos para reagir contrariados quando “Deus não se comporta como Deus”, ou melhor, quando não responde aos parâmetros que habitualmente adotamos a seu respeito, e decepcionados, diríamos “Deus não pode lavar os pés aos homens”.

Queridos irmãos e irmãs, Jesus revela um novo rosto de Deus: não um Deus patrão, nem juiz inflexível; mas Deus “Servo por amor”. Que fique claro, o amor também sabe ficar de joelhos. Ademais, são três passagens decisivas em cada celebração eucarística:

“Jesus se levanta da mesa”: cada Missa começa com os pés … a Missa não é um ato de quietude, nem de sonolência, mas empenha os pés para irem além de si mesmos (“Ite, missa est”, “Ide, é a missão”), caso contrário, permanece inacabada.

“Jesus tira o manto”: manto do lucro, do interesse pessoal, do poder e da soberba … até a nossa Igreja é chamada a despir-se de tal manto – “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”.

“Jesus amarrou a toalha à cintura”, ou seja, o avental da casa; só se acredita em quem serve, porque o dizer sem fazer perde a eficácia e se evapora. Na verdade, Paulo VI, na Audiência dada ao Pontifício Conselho para os Leigos em 02.10.74, disse, “o homem contemporâneo escuta com mais satisfação os testemunhos do que os mestres, ou se escuta os mestres o faz porque são testemunhas”.

Portanto, “se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”. Aqui, o Senhor nos ensina que amar é servir, nos ensina que servir é reinar. Pois amar os outros é “servi-los”, é amar “até o fim”, sempre e em todas as circunstâncias, porque “o amor jamais acabará”(1Cor 13,8).

E a Ceia, instituição da Eucaristia (cf. 1Cor 11, 23-26), repete-se ao longo dos séculos. Repete-se com o mesmo apelo, isto é, Jesus pede-nos que imitemos o seu gesto de serviço, que nos aproximemos sobretudo dos pequeninos, dos pobres (no sentido material e espiritual).

Recordemos que viemos, como Jesus, à terra para servir e não para ser servido (cf. Mt 20,18). A respeito disso, Santo Agostinho disse: “Que o cristão não desdenhe de fazer o que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina até aos pés do irmão, também no coração se acende, ou se já existia alimenta-se, o sentimento de humildade”(Comentário ao Evangelho de João, Homilia 58, 4-5).

Cristo se humilha e, portanto, se sacrifica durante a missa. Mas, retomando as palavras da Epístola aos Hebreus, Ele “é o mesmo, ontem, hoje e sempre” (Hb 13, 8). Os crentes participam do Sacrifício Eucarístico, mas o seu comportamento para com Cristo é mais ou menos o mesmo dos apóstolos na hora da Ceia. Houve e ainda há santos e pecadores, fiéis e traidores, mártires e negadores.

Olhemos para nós mesmos. Quem nós somos? Qual é o nosso comportamento para com Cristo? Pois, Deus nos livre de termos algo em comum com Judas, o traidor, e nos permita seguir Pedro no caminho do arrependimento. Que o Senhor faça com que aprendamos que o maior é aquele que melhor sabe servir, se humilhar e se ajoelhar, porque a única coisa grande é o amor.

Boa meditação, caríssimos!