Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

4º Domingo da Páscoa – Ano B

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At 4, 8-12; 1Jo 3, 1-2; Jo 10, 11-18

“Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”.

“Eu sou o Bom Pastor” é o título mais desarmado e desarmante que Jesus deu a si mesmo.  O título que, ecoando na nossa mente, nos dá a certeza de que não estamos sós, nos dá a sensação de segurança.  Jesus é o autêntico Pastor, o verdadeiro e forte, que não foge.  Ele se preocupa com a nossa vida, nos pertencemos a Ele, e por isso combate e combaterá com os lobos do mal para defender o seu rebanho.

Para nos esclarecer ainda melhor, o evangelista João nos dá a definição do que “não é pastor”, isto é, o mercenário, a quem “nem são as suas as ovelhas”, “não se preocupa com as ovelhas”, enfim, ele não as ama, não contam para ele, apenas está a busca da sua recompensa pelo trabalho realizado.

E se tivéssemos que traduzir literalmente do grego esta expressão evangélica que manifesta o imenso amor de Jesus por nós, seria: “Eu sou o belo Pastor”! E tal beleza do pastor não reside na sua aparência exterior, mas sim no seu encanto e na força de atracão que advém da sua coragem e generosidade.

A beleza está no gesto resultante desta expressão repetida cinco vezes no Evangelho: “dá a vida”, “dou a vida”, “dou a minha vida”, “a dou espontaneamente” e “tenho o poder de a dar”.  Em suma, o belo Pastor se oferece; Ele não pede, dá; Ele não pretende, sempre estende a mão às ovelhas e atende; tudo sem ter algo em troca, sem algum proveito, mas para nos tornar em “um só rebanho, um só pastor”.

E nesta eclosão de vida entrelaça um conhecimento de amor entre nós e Ele, e entre Ele e o Pai. Pois, nos diz: “conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai”.  Como é bom e gratificante cada ato seu de amor! De facto, oferecer a vida é muito mais do que cuidar do rebanho.

Caríssimos, estamos diante do fio de ouro que une toda a obra de Deus, e esta, desde sempre e para sempre nos oferece a vida.  E Ele não pode imaginar aventura melhor que esta para nós: Jesus não veio para trazer um sistema de pensamento ou normas, mas para trazer mais vida, “vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10); portanto veio para oferecer o florescimento da vida em todas as suas formas.

Procurando ainda entender mais a expressão “Eu dou a minha vida”, é de salientar que Jesus não quer dizer apenas a sua morte, aquela Sexta-Feira Santa, para todos.  Ele vai além, continua e incessantemente vai dando a vida; torna-se assim atividade própria e perene de um Deus se identifica como mãe concebe a vida, como videira que dá seiva aos ramos, como fonte que dá água viva.

E Pedro, começando por definir Jesus como “o autor da vida” (Atos 3,15), isto é, inventor, artesão, construtor, doador de vida, chega ao clímax, para dizendo “em nenhum outro há salvação “(Atos 4:12).  E isto corresponde à resposta que ele deu a Jesus: “Senhor, para quem iremos?  Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

“Eu dou a vida”, portanto, significa: “dou-vos a minha forma de amar, ofereço-vos uma energia para nascer de novo; ofereço-vos germes de divindade, para vos tornar semelhantes a Mim – “seremos semelhantes a Deus” (1Jo 3,2) –, pertencemos a Ele. Somente com um suplemento de vida, a sua, poderemos vencer aqueles que amam a morte, os numerosos lobos de hoje.

Somente vivendo esta pertença nos tornamos, por sua vez, capazes de encontrar o outro, de amá-lo e de dar a vida por ele.  Que o Senhor nos dê um coração novo e vivo, nos torne conscientes e comprometidos em fazer da nossa vida uma entrega continua de nós mesmos, doando o amor no compromisso de cada dia.

Boa meditação, caríssimos e “bón djàgingù – djà Sùmú – da tudu nancê”. JB