Jo 14, 27-31a
“Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou”.
Roma imperava no mundo na época de Jesus, e aqueles que não se adaptavam a “pax romana” sofriam a perda dos direitos civis ou mesmo até a decapitação. Em suma, uma paz imposta com arrogância e prepotência. E a única saída seria somente suportá-la, porque onde reinava a violência, a mansidão não teria a chance de prevalecer.
Nos séculos posteriores, a paz seria concebida como um intervalo entre as guerras. De fato, a paz passou a ser definida pelos filósofos antigos como manutenção da ordem e ausência de tensões e conflitos. E hoje ainda parece ser a única forma de paz que o mundo experimenta. Jesus diria: “fiqueis, se quiserdes, com essa paz falsa imposta pelos poderosos deste mundo“; não é a paz que Ele nos quer dar, a Sua paz não é deste mundo, resultado de imposições.
A paz de Jesus nem é aquela paz estóica pela qual, mesmo que o mundo desmorone, o homem continuaria indiferente e passivo, mesmo que sofra qualquer arranhão. A Sua paz não é nem aquela pacifista, que consiste em buscar o bem-estar material, em se sentir bem, proporcionando todo conforto para si e por conta própria, sem importar com os outros.
O Rei da paz nunca descerá para competir com os poderosos deste mundo, nem seria estóico ou pacifista, mas se deixará coroar Rei no trono da cruz, portanto, a sua paz passa pela cruz, que é o clímax do amor. De fato, Ele dirá “A paz esteja convosco” (cf. Jo 20, 26) e mostrará as suas feridas gloriosas.
A paz de Jesus custa. É fruto de um amor capaz de vencer o mal com o bem (cf. Rm 12,21), qual perdão. Uma paz “paga” ao preço do ouro. É a vitória do amor, não dos pactos. E por falar nisto, São Paulo VI disse: “Para ter verdadeira paz, é preciso dar-lhe uma alma. E a alma da paz é o amor”.
Jesus nos deu a sua paz como um presente que vem da união com Deus, da reconciliação com a Santíssima Trindade, em uma palavra, para nos sentirmos amados e perdoados por Deus. Somente com um coração pacificado podemos receber o outro, pedir desculpas, sorrir até para aqueles que nos machucam.
Caríssimos, saibais disto, a primeira vontade de paz deve fluir dos nossos corações, porque se realmente queremos construir a paz no mundo, vamos construí-la primeiramente dentro de nós. As vezes são muito edificantes os nossos silêncios e “deixa estar” para que haja ou jaza a paz entre nós e os nossos irmãos, nossos colegas.
Por isso, urge silenciar o nosso egoísmo e a parte sombria e violenta que existe em nós, não impondo o nosso “eu“, mas propondo-nos amorosamente como instrumento da paz de Deus.
Assim, “onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união… Que eu não busque tanto: ser consolado, mas consolar; ser compreendido, mas compreender; ser amado, mas amar. Porque é dando que se recebe; é esquecendo que se encontra; é perdoando que se encontra o perdão; e é morrendo que se ressuscita para a Vida Eterna” (oração da Paz, de São Francisco de Assis).
Boa meditação, caríssimos. JB