Jo 15, 1-8
“Quem permanece em Mim e Eu nele dá fruto abundante…”
Ainda hoje, a liturgia nos propõe o Evangelho do domingo passado: Jesus é a videira, nós somos os ramos, mesma planta, mesma raiz e mesma seiva, e assim, o discípulo vive em estreita comunhão e dependência com seu Mestre.
Deus flui dentro de nós porque Ele quer que estejamos vivos e fecundos. E se não fosse por aquela propensão natural ao pecado que temos, que com pesar diz São Paulo, “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7,19), nenhum de nós ramos gostaria de nos separar da videira, porque o destino estaria selado: apanhado, lançado ao fogo e queimado, portanto, seria condenado à morte.
Então, ao permanecer, o Evangelho nos pede interioridade: “quem permanece em Mim e Eu nele dá fruto abundante”. E o verbo “permanecer” de fato se refere a uma atividade que é vivida nas profundezas do coracao, não na superficialidade das emoções.
Ademais, se a fé permanecer superficial, será vítima do mau tempo, do mau humor, e sofrerá as consequências. Quantos de nós possuem apenas uma fé lânguida que não traz benefício a si mesmos e nem mesmo é edificante para os outros!
“Permanecer” não é sinônimo de quietude, mas sim de dinamismo, é vivacidade interior, um fortalecimento contínuo da fé, e o crescimento em par (Deus-discípulo, Videira-ramos). Retrata a maturidade do “relacionamento”, capaz de superar todas as provas do pedregoso caminho da vida.
Só quem reconhece que é amado permanece estável. O amor não é uma experiência momentânea, mas sim uma história de amor e continua sendo se permanecermos nele.
Para aqueles que acreditam que já são cristãos – “já estou salvo” -, só porque foram batizados, o Evangelho lhes faz lembrar que a vida de fé é um caminho. Se vai tornando discípulo caminhando, ao longo do caminho.
Interessante! Inácio de Antioquia, depois de uma longa vida de santidade, enquanto estava sendo entregue aos leões no Circo Máximo pra ser devorado, na antiga Roma, teria dito: “agora começo a ser discípulo” (Epístola aos Romanos V, 3).
A fé é um caminho em que a fecundidade é possível graças a uma morte, a uma poda. Assim acontece o enxerto doador de vida em Cristo (cf. Jo 15,2-3).
Quanto mais essenciais formos, mais frutos produziremos. Palavras que valem não só para cada um individualmente, mas também para a Igreja, igualmente carente de poda.
“Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido”. Que o Senhor nos conceda a graça de nunca nos afastar d’Ele, que nos abra o coração às podas necessárias de modo a permitir nas nossas vidas a sua presença e os seus frutos de amor entre os homens, nossos irmãos e irmãs.
Boa meditação, caríssimos. JB