Jo 16, 5-11
“… é do vosso interesse que Eu vá”.
O Espírito Santo está vindo e Jesus convida os discípulos a entenderem o seu dom. Mas eles não estão e nem se importam, porque sentem que não verão mais o seu Mestre com os olhos de carne: “agora vou para Aquele que Me enviou e nenhum de vós Me pergunta: ‘para onde vais?’”.
O que Ele queria dizer aos seus amigos: “nenhum de vós Me pergunta: ‘para onde vais?’” Talvez Ele quisesse fazê-los pensar nas suas emoções e permitir que saíssem daquele tipo de incerteza em que haviam entrado, tendo em vista o que aconteceria em breve (paixão e morte do Mestre)?
Eles eram fiéis a Ele, se alimentavam da sua Palavra e da Eucaristia. Seguiram-No pelas estradas pedregosas e atalhos deste mundo, fizeram escolhas que não foram fáceis, contando, porém, com a sua presença tranquilizadora.
Agora e repentinamente, recebem a porta na cara: “… é do vosso interesse que Eu vá”. Grande reviravolta nas suas vidas. Como não se sentirem impregnados de tristezas e dúvidas, ou não se alarmarem com medos, desorientação, sensação de abandono?
Infelizmente, somos feitos de terra, estamos apegados ao que vemos, percebemos, tocamos. E os desapegos nos assustam. Ainda mais, escutando do próprio Senhor que Ele se vai embora, de carne e ossos que são feitos os discípulos, como não se sentirem perdidos, desiludidos e abandonados? Mesmo com a promessa do Paraclito!
Por outro lado, Santo Agostinho, parafraseando Jesus, disse: “é bom para vós que cesse a Minha presença física, para que possais Me procurar e Me amar com um amor mais livre e maturo. Assim crescereis e não permaneceis crianças na fé” (Comentário sobre o Evangelho de São João, homilia 94). Acrescento: será necessária a ausência definitiva de Jesus, para a poderosa ação do Espírito reativar a busca matura da fé e da esperança nos apóstolos.
Caríssimos, Jesus nos convida a dar solidez à nossa fé, a passar das emoções fortes mas sazonais à fase adulta da fé. As trevas, aos olhos da fé, nunca deveriam tornar-se um tempo de angústia, mas sim de crescimento: o momento em que, despidos de gratificação, vivemos o amor de gratuidade.
Portanto, quando cessa a percepção “sensível” da presença de Jesus, começa a mais profunda: Ele viverá em nós ressuscitado como em um tabernáculo. Ademais, Ele já nos tinha assegurado: “tende fé em Deus, tende também fé em Mim” (Jo 14, 1).
Pois, confiemos n’Ele, porque a vida não é só o que vemos e temos sob controlo, somos também “outro”. Façamos nossa, portanto, esta oração dos apóstolos: “Senhor, aumentai a nossa fé” (Lc 17,5).
Boa meditação, caríssimos. JB