Actos 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Mc 16, 15-20
“… o Senhor Jesus foi elevado ao Céu … [mas] cooperava com os Onze, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam”.
Neste domingo, a Igreja celebra a Ascensão do Senhor que ocorre entre a Páscoa e o Pentecostes. Jesus ascende, regressa ao Pai, para nunca mais ser visto: é a sua última aparição, a mais solene, mas não é o evento final.
Pois, nela, a última palavra não é “elevado ao céu“, mas “virá do mesmo modo“, não é “foi elevado ao Céu“, mas “cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres” , em suma, nos dirá o evangelho segundo Mateus: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,20).
Então, caríssimos, “… porque estais a olhar para o céu?“, não vivamos olhando para o céu, isto é, não nos entristeçamos, Jesus ascendeu, mas não no ventre do céu, mas nas profundezas da minha, tua e nossa existência, “mais íntimo a nós que nós mesmos” (Santo Agostinho).
Em vez de olhar para o céu, olhemos para nós próprios, examinemos as nossas profundezas sobre a missão que nos espera depois desta partida do Senhor. Por isso, a advertência dos “dois homens vestidos de branco” nos convida, queridos amigos e amigas, a inaugurar um novo tempo: o tempo da ausência-presença de Jesus, o tempo do testemunho, o tempo do anúncio, o tempo da Igreja.
“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. A este grupo de homens assustados e confusos, que representam cada um de nós, então a Igreja nascente, o Senhor lhes confia o mundo: “eles partiram a pregar por toda a parte…”. Ele os exorta a pensar em grande e a olhar além, e diria: “o mundo é vosso”. E Ele o faz porque acredita neles, apesar de O terem percebido pouco, O terem traído e negado, e ainda muitos duvidavam.
E por falar nisso, quanta alegria nos dá, como pecadores e fracos, saber que o Senhor confia em nós, nestas nossas mãos, neste nosso coração, mais do que nós mesmos! Ele sabe que também nós podemos contagiar, com nosso testemunho, cada vida que encontramos. Mas isso é realmente possível? É, o versículo final nos confirma: “eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles”.
Caríssimos, somos mensageiros de uma Palavra que toca o homem no centro da sua vida. O Evangelho, confiado à Igreja, é inequívoco e sem meio termo: “quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado“, isto é, se acreditarmos, somos salvos, e se recusarmos a acreditar ou encolhermos os ombros, estamos perdidos. Pela fé, que é o sim dado pelo homem a Deus, somos salvos.
Cuidado, porém, com a tentação de olhar para o céu, de ser espiritualistas, construtores de religiões abstratas, de falsas consolações e promessas. Estes serão os milagres que acompanharão os que acreditarem: “expulsarão os demónios em meu nome” – combater e vencer o mal; “falarão novas línguas” – linguagem do amor, que significa amar “com ações e de verdade” (1Jo 3,18); “se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal” – enfrentar tentações, situações difíceis da vida, não fugir, nem procurar caminho mais confortável; “quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados” – além de fazer maravilhas e milagres, saber cuidar de quem sofre, ser solícito para com os ‘pequeninos’.
Portanto, Jesus fez todos estes milagres. Caminhou neste mundo ajudando concretamente as pessoas e procurando construir a fraternidade, amando, perdoando, dialogando e acolhendo a todos, “até ao dia em que foi elevado ao Céu” – a sua Ascensão – que, como disse Bento XVI, “não é uma viagem cósmica, mas é a navegação do coração a partir do fechamento que existe em nós ao amor que abraça o universo”.
Desta navegação do coração, Jesus nos chama e nos confia o mundo: saiamos de nós mesmos, abracemos com amor o universo, agora é a nossa vez e a vez de todo aquele que se professa cristão.
Boa meditação, caríssimos e “bón djàgingù – djà Sùmú – da tudu nancê”. JB