Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

Solenidade do Pentecostes – Ano B

5356A10A-C4EE-4F23-A028-BDEC7A7C125D

Actos 2, 1-11; 1 Cor 12, 3b-7.12-13; Jo 20, 19-23

Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós: Recebei o Espírito Santo…”.

No domingo passado, celebramos a Ascensão do Senhor ao céu, que antes de subir pediu aos Apóstolos que ficassem juntos para se prepararem para receber o dom do Espírito Santo, que Ele haveria de enviar (cf. At 1,1-14).

Deve ter sido uma espera difícil para se descrever.  O que teria acontecido?  Para discípulos, tão tímidos e temerosos, o que significaria a vinda do Espírito Santo?  Eis a narração do Pentecostes, naquela manhã, cinquenta dias depois da Páscoa do Senhor: “… um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam… línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles e todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas…”(Atos 2,2-4) … tempo da Igreja: “… Eu vos envio a vós: Recebei o Espírito Santo”.

Aquele dia marcaria o início da Igreja: “cheios do Espírito Santo”, o medo nos discípulos desapareceu, nos seus corações sentiram uma nova força, as suas línguas se soltaram e eles começaram a falar francamente, para que todos pudessem entender o anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado.

Literalmente tudo muda e, como pobres homens, o Espírito os faz tornar capazes de grandes coisas, até o martírio.  Receberam o sacramento da Crisma ou Confirmação porque, acolhendo o Espírito Santo nos seus corações, confirmaram a fé recebida no Baptismo como apóstolos e se tornaram soldados de Cristo, isto é, além de difundir, passam também a defender a mesma fé com palavra e acção, como verdadeiras testemunhas de Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1303).

Curiosamente, como Lucas descreve o evento, ele se refere explicitamente à teofania de Deus no Monte Sinai (cf. Ex 19,16-19): o trovão, as nuvens, o fogo, elementos que descrevem a solenidade do evento e a presença de Deus, mas que também podem ser relidos numa chave espiritual.

O Espírito é trovão e terremoto: nos sacode profundamente, mina as nossas supostas certezas, nos força a superar os lugares-comuns sobre a fé (e o Cristianismo!).  O Espírito é uma nuvem: o nevoeiro obriga-nos a confiar em quem nos conduz para não perder o caminho da verdade.  O Espírito é fogo, fogo divino, fogo de amor capaz de transformar, que aquece o nosso coração e ilumina os nossos passos.  O Espírito é vento: somos nós que temos que guiar as velas para recolher o impulso e atravessar o mar da vida!

O Espírito torna-se o anti-Babel: se a arrogância dos homens levou à confusão das línguas, a não se entenderem mais, a presença do Espírito nos faz escutar uma só língua, uma só voz, uma linguagem de amor em vez de ódio, de verdade mais que a de mentira e de paz mais que a de violência e da guerra.

Tudo está esclarecido, como disse Bento XVI, “Babel é Babel e o Pentecostes é o Pentecostes. Onde os homens pretendem tornar-se Deus, podem unicamente pôr-se uns contra os outros. Ao contrário, onde estão na verdade do Senhor, abrem-se à acção do seu Espírito que os ampara e une” (Homília na Solenidade de Pentecostes, 27.05.12).  Pois, onde havia divisão e indiferença, no Pentecostes, surgiram unidade e compreensão.

Por isso, caríssimos, invoquemos o Espírito quando não nos entendemos na família, na paróquia, no trabalho.  E façamos nossa esta oração tão cara a Santa Teresinha de Jesus: “Vem Espírito Santo, alma da minha alma, ilumina-me, atrai-me, faça-me conhecer a tua vontade e que eu possa segui-la sempre”.

Boa meditação, caríssimos e “bón djàgingù di Pentecostes da tudu nancê”. JB