S. Filipe Néri (sec. XVI).
Mc 10, 32-45
“… quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos”.
Enquanto Jesus anunciava a sua paixão, morte e ressurreição, “Tiago e João, filhos de Zebedeu” foram atingidos pela febre dos primeiros lugares: “concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. Eles pedem a Jesus visibilidade aos olhos do mundo.
O poder é como uma pandemia que atinge todos os corações. A busca por um lugar sob o sol da fama parece nunca parar. Porém, mesmo sendo típica da natureza humana, Jesus não o mortifica, mas o canaliza para a sua lógica de vida.
E Ele dirá aos dois irmãos: “… não sabeis o que pedis”. Em outras palavras: vós não percebeis o que ides ao encontro, o que pode ter desencadeado a fome de poder.
Na realidade, segundo o Evangelho, estar à direita ou à esquerda de Jesus, primeiros lugares, significa ocupar os lugares dos condenados crucificados ao lado de Jesus no Gólgota. E beber do seu cálice amargo e ser batizado no seu batismo de sangue significa perder sua vida por causa de Jesus (cf. Mt 16,25), ser como o grão de trigo podre, viver em um tom menor.
Os grandes da terra erigem tronos para seu imenso ego. Em vez disso, “não deve ser assim entre vós…”. Pois, mesmo que Deus se sente num trono, Ele sempre coloca o avental para sarar as feridas dos corações, para servir: “Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção de todos”.
Interessante! Ser servo torna-se a definição mais confortante de Deus: Ele não mantém o mundo a seus pés, mas se ajoelha aos pés das suas criaturas.
A este respeito, Bento XVI, hoje Papa emérito, na sua Homilia, aquando da Solenidade de Corpus Domini (22.05.08), disse: “prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a inclinar-se diante do homem, como Bom Samaritano, para o socorrer e dar a vida, e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos“.
O serviço vivido como Jesus e por Ele primeiro, torna-se para nós, cristãos, a estrada principal da vida, o caminho da liberdade, o caminho alternativo a este efémero mundo: em Jesus não vivemos mais segundo o critério do “homo homini lupus” (homem como lobo do próprio homem) mas sim do “homo homini Deus” (homem como Deus do próprio homem).
Portanto, ainda hoje, temos este desafio: grande e primeiro não é quem comanda, mas quem serve; não aqueles que levantam as suas vozes, mas aqueles que estão prontos a morrerem crucificados por amor. Porque entre nós deve existir amor e coisas do céu: outro mundo, outra história, outros sonhos. Que o Espírito do Senhor nos ajude hoje a entrar profundamente na sua lógica de serviço.
Boa meditação, caríssimos. JB