Dt 4, 32-34.39-40; Rom 8, 14-17; Mt 28, 16-20
“… batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Depois da ressurreição, Jesus tinha dito a Maria Madalena e a outra Maria o seguinte: “Não tenhais medo; ide anunciar a meus irmãos que vão para a Galileia. Lá me verão” (Mt 28, 10). E hoje, nesta solenidade da Santíssima Trindade, isto se realiza: “… os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direção ao monte que Jesus lhes indicara”.
Todos foram ao previsto encontro, mesmo aqueles que ainda duvidavam, carregando consigo uma fé vacilante e hesitante. Na verdade, nada mais se poderia esperar de uma comunidade ferida pela traição, abandono e o destino trágico de um dos membros, como Judas. Por isso, esta, com razão, acreditava e duvidava: “Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram”.
Caríssimos, nesta fé vulnerável, os Onze apóstolos não estão sós, todos nós nos reconhecemos nela. No entanto, Jesus não se ressente disso, nem mesmo se retrai na decepção, antes pelo contrário, Ele “aproximou-se…”. Ademais, nem mesmo a nossa pouca fé e a nossa incredulidade conseguem detê-Lo. Ele é o nosso Deus, “clemente e misericordioso, lento para a ira e rico de graça” (Sl 145,8; cf. Ex 34.6), apropriando-me do ensinamento de Papa Francisco, Deus “em saída”, eterno peregrino em busca do templo que somos nós, suas criaturas.
Ele nunca nos deixa sós, e a sua pedagogia vencedora é “Emanuel, que significa Deus connosco” (Mt 1, 23), estar connosco, estar com os seus, porque os amou e os ama com um amor terno e infinito e, deles, Ele nunca mais se afasta: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos”. Pois, o primeiro dever de quem ama é estar junto com o seu amado.
“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo“: os discípulos pressentem que a sua missão é fazer outros discípulos como eles, batizando-os “‘em nome’ do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não ‘nos nomes’ deles porque não há senão um só Deus” (Catecismo 233), portanto, eles têm um princípio sobre o qual fundar a sua missão: a Santíssima Trindade.
A Santíssima Trindade é Una, e também é um só Deus em três pessoas realmente distintas entre Si, cujas relações de origem desenrolam da seguinte maneira: “é o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede” (cf. Catecismo 253-254). Três Pessoas que se amam a ponto de serem um “único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra” (Dt 4,39), precisamente, amor infinitamente amoroso (mistério de comunhão e de amor).
“Fazer discípulos entre todas as nações, batizai-os”. Para Jesus, alguém se torna discípulo por meio do batismo. Batizar significa mergulhar, fazer os homens mergulharem neste mistério divino de comunhão de três Pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – para que, ao emergirem, se tornem “filhos adotivos” do Pai, “herdeiros com o Filho” e “conduzidos pelo Espírito Santo” (cf. Rm 8,14-17), chamados a cumprir tudo o que Deus mandou, qual caminho para encontrar a felicidade, a vida n’Ele.
Celebrar, portanto, o mistério da Santíssima Trindade, fundamento da nossa fé (cf. Catecismo 232), significa acolher a livre e gratuita auto-comunicação de Deus na nossa história. Deus se revelou amando, e no Seu amor, que venceu o mal com a cruz do Filho, obtém para nós a participação na vida divina, que nos se manifesta com o dom do Espírito. Assim, as três Pessoas estão presentes no mistério da cruz: o Pai que dá ao mundo o Filho para salvar o homem; o Filho que cumpre o plano do Pai; o Espírito que anima a nossa existência a ponto de transformá-la (Deus criador, Deus redentor, Deus consolador).
“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações”. Como cristãos, homens e mulheres que mergulharam na vida divina, na sua graça, a Santíssima Trindade não pode ser apenas uma fórmula de fé ou um mistério a ser contemplado, mas sim uma verdade a ser vivida diariamente: amar a Deus e o próximo para entrar no fluxo do amor do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Com Cristo e em Cristo a Santíssima Trindade está em nós e nós estamos na Santíssima Trindade. Portanto, que Deus escute o clamor do Espírito que, em nós, o chama “Abá, Pai” e faça que, obedecendo ao mandamento do Salvador, nos tornemos mensageiros e testemunhas da salvação oferecida a todos os povos