Ex 24,3-8; Heb 9, 11-15; Mc 14, 12-16-22-26
“Tomai: isto é o meu Corpo…, este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
derramado pela multidão dos homens”.
Hoje, celebramos a festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Jesus se deixa encontrar, se torna Pão, se torna alimento para nós. Este gesto de amor, este sacrifício, se repete em todas as celebrações eucarísticas há mais de 2.000 anos! Nenhuma mente humana poderia ter pensado num tão grande e semelhante “milagre de amor“!
A celebração da Eucaristia refere-se à última ceia de Jesus com os seus apóstolos: é durante esta ceia que Ele se doa a eles. E o presente Evangelho, falando-nos da preparação deste grande acontecimento, ressalta o que o Mestre diz aos seus discípulos no momento mais importante: “‘Tomai: isto é o meu corpo’. Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: ‘Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens’”.
A nós, seus discípulos, então, Ele, em cada Santa Missa, se doa, porque quer estar connosco, porque quer nos ajudar com sua presença em cada momento da nossa vida, porque nos quer felizes – “Tomai: isto é o meu corpo”, “este é o meu sangue”. Jesus não pede apenas para adorá-Lo. Ele pede mais: quer estar nas minhas mãos, na minha boca, fazer-Se o meu sangue e a minha vida.
Gostaria de salientar a diferença substancial entre o que alimentamos habitualmente e o Pão Eucarístico. Quando comemos alimentos comuns, nosso corpo os transforma em proteínas, vitaminas, energia … isto é, nutrimento para o nosso corpo. Alimentando-nos de Jesus, porém, é Ele quem nos transforma, Ele nos transforma n’Ele, nos ajuda a ser como Ele, a pensar como Ele e a amar como Ele.
Tudo como Ele! Leão Magno expressa isso com uma fórmula famosa: “Participar do Corpo e do Sangue de Cristo tende a nos transformar naquilo que recebemos”. Parece difícil viver assim … fazer tudo por amor, dar tudo de nós, sempre perdoar, servir, sermos sempre bons, obedientes, nunca brigarmos, nunca zombar-nos de ninguém … É certo que não é fácil, mas se queremos ser pessoas reais e leais, pessoas que “não se deixam vencer pelo mal, mas vencem o mal com o bem” (Rom 12,21), que se alegram pelo bem do próximo, este é o caminho que Jesus nos indica, é certamente um caminho árduo, mas é o único, aquele que nos torna livres do egoísmo que nos escraviza. Pois, disse o Bento XVI: “O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana” (Homilia, Solenidade do Corpo de Deus, 07.06.12).
Deus, que é amor, nos criou à sua imagem e semelhança, estabelecendo connosco a primeira aliança (cf. Ex 24,3-8), mas por causa das nossas transgressões, quais obras de morte, quis nos purificar e salvar, enviando seu Filho, mediador do nova aliança (cf. Heb 9,11-15), esperando precisamente isto de nós: alimentar-se de Cristo, seu Filho, para nos tornarmos membros vivos do seu Corpo, para sermos como Ele. E sabendo que devemos ser sempre encorajados, ajudados, até carregados nos braços quando estivermos cansados, Ele não nos deixa a sós, nem mesmo quando erramos porque está sempre pronto a nos perdoar: o seu maior desejo, de facto, é o de estar connosco e em nós.
A Eucaristia é o momento máximo de união com Ele, é o momento em que também nós somos convidados a ser “pães partidos”. Não partir, certamente, como Jesus, o nosso corpo, mas partilhar o que somos e temos para com próximo. Como nos disse Madre Teresa de Calcutá: “Se não souberes reconhecer Cristo nos pobres, não O poderás encontrar nem na Eucaristia. Uma única, idêntica e igual fé ilumina ambas as coisas.”
O Papa Francisco, no Angelus de 22.06.14, afirma: “A caridade de Cristo, acolhida com o coração aberto, muda-nos, transforma-nos, torna-nos capazes de amar não segundo a medida humana, sempre limitada, mas segundo a medida de Deus. E qual é a medida de Deus? Sem medida! A medida de Deus é sem medida. Tudo! Tudo! Tudo! Tornemo-nos então capazes de amar também quem não nos ama…”. Que o Senhor nos ajude a redescobrir a grandeza da Eucaristia, alimento que dá vida, fazendo-nos tornar “pão partido” para com o próximo, identificando-nos assim como membros pertencentes a este seu Corpo.
Boa meditação e “bón djàgingù di Clôpo e Sanguì Súmu da tudu nancê”. JB