Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

12º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Jó 38,1.8-11; 2Cor 5,14-17; Mc 4, 35-41

Mestre, não Te importas que pereçamos?.

 

O Evangelho deste domingo relata o famoso episódio da “tempestade acalmada”.  E nesta situação tão difícil, Jesus se apresenta aos seus discípulos como alguém que parece dormir, despertando neles medo, desespero e sentimento de perda: “Mestre, não Te importas que pereçamos?

Mas, se nos identificarmos na situação dos discípulos, também comportaríamos da mesma forma.  Sendo assim, antes de mais, é necessário nos interrogar a nós mesmos, como afrontamos os acontecimentos dolorosos da nossa vida: com os olhos de uma fé autêntica em Deus, ou através dos óculos da mentalidade atual, confiando apenas no nosso ego?

 Caríssimos, saibais disto: aquele Jesus que “à popa, dormia com a cabeça numa almoçada”, é o mesmo que “se levantou, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: ‘cala-te, e fica calmo’”.  E o evangelista somente relatou: “o vento cessou e houve uma grande calmaria”.  Em outras palavras, ressoa o que o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade, no mar: “até aqui chegarás e não irás mais além, aqui se quebrará a soberba das tuas ondas” (Jó 38,11).  Pois, Deus, no momento oportuno, nos tira do abismo, nos salva da aflição, transformando o temporal que nos assola em brisa suave e silencia as ondas que nos aflige no mar da vida (cf. Sl 107,26.28-29).

 E vos digo ainda: mesmo que seja aquele que coloca as pessoas diante dos seus medos e lhes revela o seu déficit de fé – “Porque estais tão assustados?  Ainda não tendes fé?” –, Jesus está sempre connosco no barco oscilante da nossa existência e lá permanece.  Mesmo que não nos tire a sensação de estarmos perdidos, Ele nos surpreende com a força da sua palavra, podendo assim curar os nossos males com a confiança que temos n’Ele. Talvez facilmente nos esqueçamos de que os nossos medos são precisamente antecâmara da fé.

Mas, ai de nós se reduzirmos a noção da religião ao controlo dos nossos medos.  Jesus é sim o Salvador, mas não nos isenta das tentações e provações, nem nos substitui … Ele nos treina para a fé.  E nesta, Ele está dentro, nos ajuda a superar os medos e não só, fazendo-nos decidir a vivê-los da mesma forma que Ele, como filhos que confiam no Pai, rezando: “seja feita a vossa vontade” (Mt 6,10).

A propósito, Gilbert K. Chesterton, escritor e jornalista britânico que se converteu do anglicanismo ao catolicismo (entre os séculos XIX e XX), disse o seguinte: “Como todo o ser humano, o crente também está imerso nos sofrimentos e dores quotidianos.  Mas ele encontra na fé uma lente que lhe permite ver as mesmas coisas de sempre sob uma nova luz.  A fé não muda a paisagem, mas modifica o olhar do homem”.

Deus está sempre presente na travessia desta vida.  E Ele nos educa para vê-Lo com os olhos da fé, porque Ele se afastará dos olhos carnais, mas estará mais vivo do que antes na Eucaristia. Portanto, é verdade que Deus se importa para que não morramos.  Os seus gestos o confirmam, tanto que Ele sacrificou o seu Filho por mim, por ti, por nós na Cruz, como diz Paulo: “Cristo morreu por todos” (2Cor 5,15). 

 Já dizia São Pedro Crisólogo, Bispo e Doutor da Igreja antiga: “Cada vez que Cristo dorme no barco da nossa vida, quando o nosso descanso preguiçoso O faz adormecer em nós, a tempestade desata-se com toda a força dos ventos […]. Mas visto que, como já dissemos, Cristo dorme no nosso barco, dirigimo-nos a Ele mais com fé do que com o corpo. Comovemo-Lo, não com gestos de desespero, mas com obras de misericórdia. Acordemo-lo, não com gritos tumultuosos, mas com cantos espirituais, com lágrimas perseverantes” (Sermões sobre o Evangelho de Marcos, 25).

 Por isso, queridos irmãos e irmãs, tenhamos sempre presente e com firmeza, na mente e no coração, a garantia de Jesus que conclui todo o Evangelho de Mateus: “eis que estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos” (Mt 28,20). Acordamos Jesus, que está sempre presente no nosso barco, com fé e com a nossa total confiança n‘Ele, e o nosso barco não vai ao fundo!

Que Ele torne firme a nossa fé, para que não nos exaltemos no sucesso, não nos abatamos na tempestade, mas, em cada situação da vida, reconheçamos que Ele está presente e nos acompanha no caminho da história

Boa meditação e “bón djàgingù da tudu nancê“. JB