Sab 1,13-15; 2,23-24; 2Cor 8,7.9.13-15; Mc 5, 21-43
“Não temas, basta que tenhas fé…: menina, Eu te ordeno: levanta-te”.
O nosso é um século hostil à vida, que é tida como desprovida de qualquer valor, onde o aborto, a eutanásia, o suicídio são os acontecimentos mais marcantes, porque muitos vivem como se Deus não existisse.
Na verdade, já em 28 de junho de 2003, São João Paulo II tinha denunciado isto com a sua Exortação apostólica Ecclesia in Europa (n. 9), afirmando o seguinte: “a cultura europeia dá a impressão de uma “apostasia silenciosa” por parte do homem saciado, que vive como se Deus não existisse”. Pois, se excluirmos Deus das nossas vidas, resta apenas o nosso ‘eu’, que é frágil, fraco, limitado, imperfeito, enfim, o sofrimento da doença e a morte.
Por falar de sofrimento físico e de morte, especialmente esta última, muitas vezes pensamos que a existência depende de Deus, mas a felicidade depende de nós! E quando o sofrimento físico nos oprime, surge em nós um misto de confiança e dúvida em relação a Deus, e às vezes, vencendo esta última, ou seja, a dúvida, acusamos Deus de ser a causa do mal que nos aflige.
E hoje, no Evangelho, Jairo, pai da falecida menina, e mulher sofredora, doente de uma hemorragia incurável, não pensam assim. Conscientes do mal e da incapacidade do homem de viver em plenitude, ambos se dirigem a Jesus: “a minha está a morrer: vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva”; “se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada”.
E de Jesus emana uma força capaz de curar e ressuscitar, primeiros sinais de que o Reino de Deus está entre nós, o anúncio de que Cristo é vitorioso até mesmo sobre a morte: “filha, a tua fé te salvou”; “menina, Eu te ordeno: levanta-te”. Basta ter fé, – “não temas, basta que tenhas fé”.
“Basta que tenhas fé”, isto é, crê e espera “na ressurreição dos mortos”! Em última análise, é a grande certeza que nos torna cristãos, homens e mulheres de esperança mesmo em face da doença e da morte! A cura da mulher e a ressurreição da filha de Jairo nos asseguram que a superação e a vitória sobre o sofrimento e a morte acontecem no Senhor e com o Senhor, fazendo-nos perceber que “não foi Deus quem fez a morte e não se alegra com a ruína dos vivos. Ele criou todas as coisas para existirem, … criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza” (Sab 1,13-14. 2,23).
O nosso Deus é Deus da vida. E Jesus confirma isso com os seus milagres. E Paulo diz: “Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza” (2 Cor 8, 9).
Mas, repito-vos, para que os gestos de Jesus sejam eficazes também para nós, a fé nos é exigida – “basta que tenhais fé”. Só a fé em Deus pode fazer o homem ir mais além e ser guiado pelas mãos até aquele degrau extremo, acalmando os seus pensamentos. De fato, alimentando-se desta mesma fé, São Francisco saúda de longe a sua morte, chamando-a sua irmã: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal”.
É a fé, aquela que – nos dois episódios evangélicos – ultrapassa a razão, aquela que consegue dar resposta ao que a ciência médica não foi capaz de dar, portanto, aquela que ultrapassa as fronteiras do progresso científico humano: “filha, a tua fé te salvou”; “não temas, basta que tenhas fé”. Sant’Anselmo de Aosta, inspirando-se em Sant’Agostinho, diria a Jairo: “crede ut intellegat”, quer dizer, é preciso acreditar para compreenderes.
Pois, isto é o verdadeiro significado da Encarnação: o Filho de Deus passou por toda a nossa experiência humana, em particular da dor e da morte, para trazer um resgate, impondo uma vitória e saindo dela como Senhor em sentido pleno.
Um dia, portanto, a morte não existirá, não haverá mais luto, nem grito, nem dor: todas essas coisas terão um passado (cf. Ap 21, 4). O último inimigo – a morte – será aniquilado (cf. 1 Cor 15, 26). Haverá vida e vida eterna! Eis a promessa contida nesses sinais e que torna os milagres de Jesus sacramentos de esperança.
E agora, para nós, o Senhor recomenda que façamos conhecer isto a todos, especialmente aos irmãos que estão sob o peso da doença, ou que lutam contra a morte. Talvez hoje possamos encontrar alguns deles em casa, ou visitá-los no hospital. Jesus nos confia, neste momento, uma mensagem para eles: “Tende coragem, Eu venci a morte” (cf. Jo 16,33)! Com eles, rezemos: Senhor Jesus, sois Vós quem cura, infundi em nós a fé de Jairo, o chefe da sinagoga, a fé daquela mulher sofredora. Curai-nos, imponde as vossas mãos sobre nós, deixai-nos tocar as vossas vestes.
Boa meditação e “bón djàgingù da tudu nancê”. JB