Amós 7, 12-15; Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13
“… chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los…”
Vocação e missão são dois temas que caracterizam esta liturgia; ambos se referem, têm a sua fonte em Deus, que, querendo a nossa salvação, nos envia a sua Palavra, para que voltemos a Ele, para que escutemos, com coração humilde, e conheçamos a sua verdadeira face que é o amor. “Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação”, canta o refrão do salmo responsorial, como que para resumir a extrema necessidade que cada um de nós tem de Deus, como o ar que respiramos ou a água que mata a nossa sede.
E hoje Cristo associa-se a si mesmo, na missão, alguns dos seus numerosos discípulos, os Doze, enviado-los para evangelizar! Ele os envia dois a dois porque na cultura judaica o testemunho era válido, crível e confiável apenas se duas testemunhas estivessem presentes e também porque era um sinal de partilha e comunhão. Eis aqui as duas testemunhas, dois apóstolos e não navegadores solitários.
E a Boa Nova não é confiada aos melhores da classe. Jesus não contará com grandes estruturas organizacionais, mas com a eficácia interna da Palavra: é Deus quem muda o coração, não as iniciativas humanas. Então, os pescadores do lago da Galiléia serviriam pra tal missão, até um “pastor de gado e cultivador de sicómoros” como profeta Amós serviria.
Ademais, Amós falava, porque, enviado por Deus, sua missão era dirigida a um poder político injusto e corrupto, que deveria ser trazido de volta à retidão; ele teria preferido continuar trabalhando no campo, pois sabemos de profetas que tentaram escapar da sua missão (Jonas), por ter consciência de suas escassas habilidades, ou por medo, mas a força que vem de Deus os sustentou. Até porque é o Senhor quem escolhe os seus discípulos, independentemente das suas capacidades humanas, no mistério da sua vontade.
O Senhor, conhecendo bem as estratégias do diabo que quer atrair e aguçar a ganância dos discípulos pelos bens materiais, enganando-os (cf. 1Pd 5,8), exige que os seus testemunhas não confiassem de modo algum nos seus próprios recursos ou na segurança humana: “ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro …”.
Frade Tommaso da Celano na ‘Vita seconda’, Fontes Franciscanas n. 116, disse: “Francisco, ao ouvir que os discípulos de Cristo não devem ter ouro, nem prata, nem bolsa, nem pão durante a caminhada missionária, imediatamente, exultante no Espírito Santo, exclamou: ‘Isto eu quero, isto peço, isto desejo fazer de todo o coração’”.
Além disso, na missão que nos foi confiada, o Mestre não promete uma vida fácil. Alguns insucessos e desilusões deverão ser levados em consideração. E diante deles, por exemplo, recusa da Palavra de Deus – “não estou interessado”, “não preciso de nada”, “sou um gnóstico”, “vocês da Igreja católica…!”, “vocês padres…!”, “sou doutra ‘igreja’”, etc. -, só há um gesto a fazer, como sinal, que o homem escolhe a sua própria condenação: “se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles”.
É interessante que esse gesto se refere a um costume judaico: um judeu, que voltava à Palestina depois de uma viagem ao exterior, precisava sacudir a poeira dos pés antes de cruzar a fronteira para não contaminar a terra palestina. Com esse gesto, os apóstolos revelam o distanciamento daqueles que se fecham à sua mensagem: uma hostilidade que é antes de tudo um fechamento para com Quem os enviou.
Portanto, a partir do Evangelho de hoje, podemos compreender que somos todos missionários, enviados pelo Senhor para anunciar a alegria de ser cristãos, de ser homens e mulheres de esperança, homens e mulheres redimidos por Ele. Em nosso caminho também encontraremos pessoas diante das quais sacudiremos com amor o pó dos pés.
Mas precisamente nesses momentos difíceis, naqueles momentos salvificos, poderemos nos unir mais profundamente a Ele. Então, peçamos ao Senhor que nos abra o coração ao anúncio da Salvação proclamado pelos seus mensageiros e também nos dê o disposição para nos colocarmos ao serviço da sua Igreja.
Boa meditação e um abençoado “djàgingù da tudu nancê”. JB