Dan 7, 9-10.13-14; 2 Pedro 1, 16-19; Mc 9,2-10
“Este é o meu Filho amado: escutai-O!”
Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João a uma montanha alta, onde a terra toca o céu. Experiência de tirar o fôlego para aqueles primeiros apóstolos, fiéis e privilegiados. Ali, lhes apareceram Moisés e Elias, Lei e Profetas, dois homens cheios de luz: Moisés desceu do Sinai com o rosto resplandecente de luz (cf. Ex 34,29), e Elias arrebatado da presença de Eliseu numa carruagem de luz (cf. 2Rs 2,10-11), ambos “conversando com Jesus”.
Diz o bispo Anastásio Sinaíta, “este é o mistério da salvação que no monte se realizou para nós; porque ao mesmo tempo nos reúne, agora, a morte e a glorificação de Cristo” (Do Sermão, Transfiguração do Senhor, nn. 5-10).
E Pedro, arrebatado perante a visão e manifestação divina, transformado com aquela maravilhosa transfiguração, isolado do mundo, abstraído das coisas da terra, diz: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias”.
É claro que, depois de ter saboreado o Reino por um momento, seu desejo não seria outro senão aí ficar, naquela montanha (…). Ele gostaria de aproveitar apenas aquele momento glorioso e luminoso de Deus, parar o tempo -“é bom estarmos aqui! Façamos três tendas…”. Mas, tendo que descer ao vale do cotidiano desta terrena vida, sob a nuvem do incompreensível, uma voz o interrompeu – eis o centro do evento: “Este é o meu Filho amado: escutai-O!”.
“Escutai-O”! Esta voz do Pai, caríssimos, percorreu dois mil anos de história, chegando até nós. “Escutai-O”, escutai o Evangelho! É a Palavra mais preciosa, a mais clara e a mais luminosa que o Senhor nos deu. A partir dessa escuta, Pedro começa a se aperceber que Jesus que está diante de si é muito mais que aquele que eles até então compreenderam.
Aquele Jesus, com o qual convivem há algum tempo e talvez O admiram por sua habilidade, está muito além do que pensavam. Daí que a aventura, na qual se encontram imersos esses três discípulos, subitamente se torna mais séria e profunda do que pensavam. E assim é entre nós e o Evangelho. Se o acolhermos, se o escutarmos, seremos atraídos para uma nova aventura, maior e mais bela do que possamos imaginar.
De fato, o Papa Francisco, na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium n. 171, falando sobre esse verbo “escutar”, disse: “precisamos de nos exercitar na arte de escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro espiritual. Escutar ajuda-nos a individuar o gesto e a palavra oportunos que nos desinstalam da cómoda condição de espectadores”. Assim, o “escutar” não será mais um colocar em função apenas os ouvidos, mas sim também o coração, as mãos, os pés, enfim, todo o nosso ser, porque escutar bem nos compromete a agir, viver, perceber, praticar o que escutamos.
Pedro, ao longo da sua vida, recordará aquela voz, o comando que veio das nuvens: “Escutai-o”! De fato, apesar das suas hesitações até a traição do seu Amigo, ele falará disso na sua 2ª Epístola (1, 18-19): “nós a escutámos aquela voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo… fazeis bem em ter diante dos olhos, como uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações”. Portanto, o Deus de Israel, que não tem rosto, tem voz. É Jesus, a Voz que se tornou Rosto. O Pai diz: “escuta-O”. Sim, escutá-lo é gratificante e edificante.
Boa meditação e bom fim de semana, caríssimos. JB