Lc 11,1-4
“Quando rezardes, dizei: Pai …”
Não é a única vez que o Evangelho fala de Jesus, retratando-o decidido a orar. E nem é difícil pensar que Ele deve ter impressionado positivamente os discípulos, tanto que um deles Lhe tenha pedido: “Senhor, ensina-nos a rezar…”. Jesus acolhe este pedido e introduz os discípulos no seu diálogo: “Quando rezardes, dizei: Pai…”.
Neste “Pai Nosso”, que é mais breve do que o de Mt 6,7-13, e resume o essencial, Jesus diz apenas “Pai” no início, termo sucinto mas fundamental, que brevemente gostaria de me deter.
Curiosamente, é típico de Lucas apresentar-nos muitas passagens em que Jesus se dirige a Deus diretamente com esta palavra concisa: “Pai” (em aramaico אבא, Ábba), um Deus próximo do homem. Escolho apenas três citações: “Eu te louvo, Pai, … Sim, Pai…” (Lc 10,21); “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice…” (22,42); “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (23,46).
Parece que, durante a sua vida terrena, para Jesus, o mais precioso e vital é a relação filial com o Pai. E ao dizer “Pai”, Ele resumiu e exprimiu todo o conteúdo da sua oração de Filho.
Ao propósito, Papa Francisco afirma que a palavra ‘Pai’ “é o ‘segredo’ da oração de Jesus, é a chave que Ele mesmo nos oferece a fim de podermos entrar também nós na relação de diálogo confidencial com o Pai que acompanhou e amparou toda a sua vida” (Angelus, 24.07.16). Sendo assim, Jesus oferece assim também a nós, seus irmãos e irmãs, a maneira de podermos dizer junto com Ele: “Pai” .
E por isso S. João, em êxtase, exclama: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). De facto, este é realmente um grande amor, um grande presente.
A oração, que Jesus nos ofereceu, portanto, revela e nos abre a grande verdade de ser, em Deus, filhos e filhas, por isso, de conhecer e acolher a paternidade de Deus e a nossa consequente fraternidade. Ao rezar o “Pai Nosso”, colocamo-nos como irmãos e irmãs de Jesus, e filhos e filhas de Deus Pai.
E não foi em vão que São Paulo tenha dito: “recebestes o espírito de adopção filial; nele clamamos: ‘Abba, ó Pai’” (Rom 8,15bc). Daí que “Ábba”, que significa Pai, contém todo o afeto do filho para com o pai: este é o coração da vida cristã. Deus não é nosso patrão, mas sim sempre Pai, que nos gerou, nos ama continuamente e satisfaz, sempre segundo a sua vontade, as nossas orações.
Sejamos realistas: nas nossas orações, não é verdade que muitas vezes só ficamos de mãos estendidas, ‘pedindo’ a Deus? Pois, raramente, nelas, entramos naquele diálogo de respiro filial com Ele … Portanto, digamos também nós: “Senhor, ensina-nos a rezar”, e rezando nos tornemos cada vez mais testemunhas do teu amor.
Boa reflexão, caríssimos. JB