Lc 11, 47-54
“… os escribas e os fariseus começaram a persegui-l’O terrivelmente e a provocá-l’O com perguntas sobre muitas coisas, armando-Lhe ciladas…”
Mais uma vez o evangelho nos apresenta a diatribe entre os escribas e fariseus, portanto, doutores da Lei e Jesus.
E nela, podemos notar que o Mestre não tem simpatia pelos truques da diplomacia. Nesta, tem algo para todos, especialmente os conhecedores e a sua maneira enganosa de entenderem a religião.
Pois, o Senhor tem razão, muitas vezes, alguns de nós, com o seu ser e agir, atuam como especialistas no sagrado, perdendo tempo julgando e maculando o próximo. Estão sempre apontando o dedo, mas para os outros.
É preciso dar testemunho, identificar-se na dor e sofrimento dos outros, tocar nos fardos da vida, antes de (não os impor) os propor aos outros.
Não foi em vão que o Papa Francisco tenha sublinhado o fato de que “as nossas comunidades, as nossas paróquias às vezes correm o risco de se tornarem alfândegas ou barreiras, em vez de portas ou pontes que conduzem à vida divina” (Audiência, Geral, 21.05.2020).
Pensando a nós, pastores e guias das paróquias, ai de nós, se pensamos em servir a missão da Igreja com arrogância, com o orgulho de quem usa até as mais autênticas palavras de fé como um prémio que lhe é merecido. Pois, Jesus tinha asseverado: “quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17,10).
Apesar das nossas limitações e fraquezas, é necessário a humildade, não só para uma boa educação, nem para parecer atraente, mas para seguir a Cristo ‘manso e humilde de coração‘ (Mt 11,29). É preciso sabedoria e atenção: justamente, quem teve a graça de conhecer o Senhor Jesus pode correr o risco de cair no mesmo erro dos fariseus.
Procuremos fazer com que a nossa vida corresponda a fé que professamos. Jesus é livre porque é totalmente de Deus, Ele liberta … e não tem medo de criticar a hipocrisia daqueles que são intérpretes injustos da Palavra. Já São Jerónimo, aos cristãos do seu tempo, dirigiu esta amarga observação: “Ai de nós, se os vícios dos fariseus encontrem a sua morada em nós”.
Portanto, fazendo um sério exame de consciência para ver se nos nossos corações há alguma forma de farisaísmo para ser erradicada de forma decisiva, temos como premissa este conselho de Evagrio Pôntico (escritor, asceta e monte cristão do sec. IV), que dizia: “Sê o guardião do teu coração e não deixe nenhum pensamento entrar ali, sem primeiro questioná-lo. A cada pensamento que surge, pergunte: tu és um dos nossos amigos ou dos nossos adversários? E se ele for teu amigo, te encherá de paz, e se ele for o inimigo, te confundirá com raiva e te excitará com desejos”.
Boa meditação, caríssimos. JB