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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

29º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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Is 53,10-11; Hebr 4,16; Mc 10,35–45

Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”.

 

Tiago e João carregavam consigo toda a ignorância e fraqueza da natureza humana que ainda não tinham sido tocadas pela sabedoria do Espírito. Portanto, com esta revindicação e pretensão mundana, colocam no centro o seu sonho de grandeza e ambição em contraste com a realidade da cruz, um valor essencial do cristão.

Eles almejaram o poder e se esforçaram para superar Pedro e os outros. Eles foram até um pouco insolentes quanto a isso, pelo fato de deixarem explícito o seu desejo: “concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”.

Curiosamente, eles não se limitaram a pedir que estivessem apenas sentados no Reino, mas, foram além, com os detalhes, exigindo: “um à tua direita e outro à tua esquerda”.  Uma mistura de ingenuidade e presunção que atravessa gerações e povos de todos os tempos, típica do raciocínio humano. Sendo Deus, porém, Jesus não olha para a parte negativa da atitude, mas na positiva, vê neles um impulso de generosidade que deseja recompensar.

Ele os acolhe e os ama como sempre, como fará imediatamente depois também com os outros dez, que tinham a mesma ambição; e daí aproveita para fazer uma nova catequese, abrindo-lhes a alternativa cristã: “não deve ser assim entre vós”. Os grandes da terra dominam os outros, se impõem … “não deve ser assim entre vós”! Prepotentes, erigem tronos para o seu imenso ego … “não deve ser assim entre vós”!

Jesus agarra as raízes do poder e faz uma reviravolta na sua lógica: “quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos”. Serviço, o difícil nome de um grande amor.  Mas também é o novo nome, o nome secreto da civilização. Com efeito, é o nome de Deus, como nos confirma Jesus: “o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos”.  Em suma, Ele não veio a busca de servos, mas para ser Ele próprio o servo. Interessante! Ser servo torna-se a definição mais confortante de Deus: Deus, meu servo!

N’Ele servir é reinar! As velhas ideias sobre Deus e o homem são destruídas: Deus não é o patrão e o senhor do universo em cujo trono alguém se ajoelha tremendo, mas sim, é Ele quem se ajoelha aos pés de cada um de nós, seus filhos, amarra uma toalha à cintura e lava os pés, e sara as nossas feridas.

A este respeito, Papa Bento XVI disse: “prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a inclinar-se diante do homem, como Bom Samaritano, para o socorrer e dar a vida, e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos” (Homilia, Solenidade de Corpus Domini, 22.05.08).

O Evangelho deste Domingo, portanto desmitifica, diminui e redimensiona o programa humano de estabilidade, sucesso, a ansiedade do poder: o poder não reside em absoluto na estabilidade de sentar-se um ao lado do outro e na segurança.  É verdade que a fama, o dinheiro e o poder tornam a nossa vida, a nossa existência linda! Porém, como um bom cristão, que isto tudo isto esteja no servir, porque, disse o Papa Francisco: “Quem serve, salva. Ao contrário, quem não vive para servir, não serve para viver” (Homilia, Missa pelo sufrágio dos Cardeais e Bispos falecidos, 11.03.15).

Sendo assim, quem serve, ama e é amado. Aceitar cargos importantes, ou seja, responsabilidades, é recomendável se vivido com espírito de serviço. Até porque nós, cristãos, devemos ser como roseiras, as plantas da rosa, que quando apedrejadas, deixam cair uma chuva de pétalas. Testemunhamos a bondade, a caridade, tudo por e no amor d’Aquele que se ofereceu por nós.

Disto, tenhamos fixos os nossos olhos nos santos. Estes, foram pessoas que não procuraram de maneira obstinada a própria felicidade, mas simplesmente quiseram doar-se, porque foram alcançados pela luz de Cristo. Eles indicam-nos assim o caminho para nos tornarmos felizes, mostram-nos como se consegue ser pessoas verdadeiramente humanas” (Papa Bento XVI, Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, JMJ 2005, Colonia, 20.08.05).

Os santos, assim, procuraram concretizar em si a profecia de Isaías, isto é, ofereceram as suas vidas como sacrifícios de expiação (cf. Is 53,10-11), procuraram um lugar para se sentar ao lado de Cristo, servindo aos irmãos e se humilhando diante deles, e por isso hoje são grandes e primeiros.  Portanto, caríssimos, peçamos ao Senhor, que nos ensine a ser humildes e a servir aos nossos irmãos, para sermos dignos e exaltados no seu reino.

Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù da tudu nancê”. JB