Lc 12,39-48
“Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem”
A exortação à vigilância continua hoje com a parábola do ladrão. Enquanto na primeira narração são os servos a serem convidados a ficar de prontidão e a vigiar à noite à espera do seu senhor, hoje é o dono da casa chamado a vigiar a vinda do ladrão-morte, para não deixar arrombar a casa da sua vida.
A imagem muda, mas não o conteúdo, pois, a espera vigilante da vinda do Senhor é uma atitude típica do cristão, principalmente para nós que tivemos o privilégio de conhecê-Lo e encontrá-Lo nas veredas da vida.
O risco é se acostumar com Ele, a ponto de se chegar a uma fé lânguida. E torna deprimente que, depois de segui-Lo de perto, o fervor se apague e com ele o amor.
Caríssimos, este é o tempo dos verdadeiros cristãos. A expetativa vigilante para qual somos chamados consiste numa atitude de vigilância ativa, a exemplo de Cristo, que cumpriu a vontade do Pai, fazendo-se servidor de todos. Somos convidados a imitá-lo na sua generosidade. E não esqueçamos que “a quem muito foi dado, muito será exigido”.
Muitas coisas nos são dadas por Deus todos os dias: a vida, a beleza do amanhecer e do pôr-do-sol, mas sobretudo o seu amor que devemos difundir ao nosso redor.
Portanto, não sejamos egoístas, retendo para nós os dons de Deus, mas façamos com que eles possam dar frutos, sabendo que, se recebemos muito, devemos dar muito: é uma excelente manifestação de sermos cristãos e companheiros de viagem do próximo.
Nesta espera, procuremos, no quotidiano, também fazer com que não reine o pecado no nosso corpo mortal, oferecendo os nossos membros como arma da injustiça ao serviço do pecado; mas sim como armas da justiça ao serviço de Deus (cf. Rm 6,12-13). Pois, dizia São João da Cruz, “ao entardecer da vida seremos julgamos pelo amor”.
E mesmo que o “senhor tarda em vir”, não comecemos a “a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se”, não ‘ab-usemos’ – não façamos o mau uso – da nossa liberdade. Com efeito, a partilha e a responsabilidade para com todos os homens e mulheres – em particular para com os mais próximos e “prediletos” de Jesus – devem caracterizar a nossa vida de cristãos.
A este respeito, disse Bento XVI, o Papa Emérito: “a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades” (Mensagem para Quaresma de 2012).
Portanto, não há lugar para os cristãos movidos pela rotina, nem para aqueles católicos “de nome”. Este tempo forte nos interpela a um forte testemunho; não fanático, mas convicto. E para viver este testemunho é necessário voltar a colocar o Senhor no centro da própria vida, deixá-lo crescer como centro de gravidade.
Ele vai voltar. Por isso, “estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem”. Não deixemos morrer o fervor cristão em nós, pois a nossa moeda é a fidelidade.
Que o Senhor nos faça ser gratos por tudo o que nos deu e servi-Lo em todas as pessoas que Ele coloca ao nosso lado e que encontrarmos no nosso caminho.
Boa meditação, caríssimos. JB