Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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Jer 31,7-9; Hebr 5,1-6; Mc 10,46–52

Mestre, que eu veja”.

 

A passagem Evangelho de hoje comporta em si uma pedagogia, um caminho que nos conduz à salvação. Nada a ver com os evangelhos dos últimos domingos: ao contrário do jovem rico que tinha medo de perder os seus bens (cf. Mt 19,16-22), e ao contrário dos apóstolos que lutam pelos primeiros lugares (cf. Mc 10, 32-45), Bartimeu vai atrás de Jesus, e nisso, ele representa cada um de nós que, reconhecendo-se pobre e humilde, empreende o caminho em direção a luz que é Jesus.

Bartimeu era cego, não conseguia ver; ele jazia fechado à realidade, nas trevas, uma condição de quem ainda não veio a luz; uma espécie de sepultura, sepultado na materialidade do mundo, oculto dos seus afazeres diários e poderes efêmeros; e, claro, ainda não podia notar a passagem de Jesus. Pois quando se apercebeu, começou a gritar: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!”.

Caríssimos, o grito de Bartimeu para a salvação, como também aquele nosso, pode encontrar barreiras.  Na verdade, “muitos o reprendiam-no para que calasse”.  Em vez disso, Jesus o escuta: “chamai-o”.  Ademais, na berma das estradas da vida, estão os últimos, os primeiros destinatários da Boa Nova, cujo acolhimento lhes confere uma dignidade que a lógica deste mundo nega àqueles que são considerados “peixes fora d’agua” e alheios à sociedade (quiçá, pensando que somente neles se encontra o mal, o que não é verdade).

Mas “o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte” (1 Cor 1, 27).  Portanto, a verdadeira cegueira não é a de Bartimeu, mas sim daqueles que vêem o Senhor, mas não O conhecem; enquanto quem não vê reconhece n’Ele o Messias que salva, o “Filho de David”, o seu Senhor, que veio trazer a luz para um mundo dominado pelas trevas da ignorância.

Sem se aperceberem disto, para os discípulos, era melhor silenciar aquele cego e garantir a tranquilidade pública, a paz pública.  Pobres homens! Esqueceram-se de que a fé, como argumentou o Papa Bento XVI, na época, “não se limita a sentimento privado, que possivelmente se esconde quando é incómoda, mas exige a coerência e o testemunho também em âmbito público em favor do homem, da justiça, da verdade” (Angelus, 9.10.05).

E os discípulos nada podiam mais fazer, pois, o cego grita ainda mais alto, “Filho de David, tem piedade de mim”, porque ele sabe que, se essa única oportunidade na vida passar, não haverá mais esperança para si.  Sendo assim, como “todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta” (Lc 11,10), a sua súplica foi satisfeita com a cura – “vai: a tua fé te salvou”.  Somente Jesus, “Sumo Sacerdote constituído a favor dos homens” (Hb 5,1), podia reconhecer a sua fé e o salvar pela mesma fé.  E Ele revela o seu poder neste pobre cego que viu com os olhos da fé o que os discípulos ainda não viam: a sua identidade messiânica.

Pois, Bartimeu, ao ir ter com Jesus, partiu com lágrimas nos olhos, como o resto de Israel no Livro de Jeremias, mas ao regressar, veio no meio de consolações e alegria, porque o Senhor é Pai (cf. Jer 31, 9). Caríssimos, a passagem de Jesus deu alegria e vitalidade a este homem que agora “seguiu Jesus pelo caminho”. O seu seguimento é gerado pela fé incondicional no Senhor que salva e converte, por isso ele não terá medo de acompanhar Jesus até o fim.  A fé assim manifestada é claramente um ato de confiança incondicional no Senhor, que sempre ama primeiro.

É a confiança em Cristo que nos ilumina e nos liberta de tantas cegueiras, sob cujo peso deixamos sufocar a nossa fé n’Aquele que verdadeiramente cura as nossas deficiências físicas e espirituais. Confiar no Senhor significa reconhecer n’Ele o verdadeiro Salvador, a luz que penetra nas trevas do nosso coração que, finalmente livre, ama e segue a verdadeira Vida.  Que o Senhor nos dê a luz da fé e nos dê a forças para que possamos segui-Lo como o cego de Jericó, até chegarmos à Jerusalém definitiva.

Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù da tudu nancê”. JB