Lc 13,10-17
“… esta filha de Abraão não devia libertar-se desse jugo no dia de sábado?”
Estava uma mulher curvada na sinagoga. Há dezoito anos assim por uma suposta escoliose, à qual se juntou a indiferença de muitos corações de pedra prontos a esmagá-la e, desta casa de oração, apagá-la.
É de salientar, também, que a sua deficiência traz à tona a condição feminina sujeita ao homem da casa: ao pai primeiro, ao marido depois. Era uma prática muito em vigor no mundo de então, que infelizmente ainda hoje subsiste em algumas culturas.
Aquela mulher “andava curvada e não podia de modo algum endireitar-se”, isto é, desprovida de dignidade. Ela não podia ter o seu próprio destino nas mãos, e jazia sob o sentido de dever, cuja transmissão, foram usadas também algumas passagens específicas das Escrituras para a sua legitimação.
Enquanto, para Jesus, ela é apenas uma pessoa sofredora que pede para finalmente ficar ereta, respeitada na sua própria identidade. Por isso, primando pelo homem, eis o milagre: “Mulher, estás livre da tua enfermidade”. A mulher foi curada – “o nosso Deus é um Deus que salva” (Sl 68,21).
Jesus desmascara assim a hipocrisia daqueles que perderam de vista o que é essencial na vida do discípulo, e a falsidade daqueles que querem se entrincheirar na observância puramente externa das leis, a fim de não se engajar pessoalmente no exercício concreto do mandamento maior: amor aos irmãos.
“E esta mulher, filha de Abraão, … não devia libertar-se desse jugo no dia de sábado?” Pois, o Senhor fez resplandecer o verdadeiro sentido do “sábado”, que é dar glória a Deus, mas sobretudo expandindo o coração aos imperativos da caridade. As prescrições da Lei (aquela que dizia respeito ao sábado e outras, hoje) têm a sua importância, mas o homem, feito à imagem e segundo a semelhança de Deus (cf. Gn 1,26), é mais importantes do que elas.
Diria São Paulo: “vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: ‘Abba, Pai’” (Rm 8,15). Sim, representando a imagem de todos nós que frequentemente nos curvamos sob o peso do pecado, do nosso próprio egoísmo e impossibilitados de nos endireitar e olhar para o rosto do Pai que nos ama, nos abraça e quer o nosso crescimento, Jesus libertou está filha de Deus do “espírito de escravidão”.
Agora, ela se levanta e “começa a dar glória a Deus”, é o milagre da vida, quase uma ressurreição de alegria plena. Que o Senhor, nosso Salvador, nos livre das consequências destrutivas do pecado, da rigidez mental e do vazio da nossa alma, e não nos deixe curvar sobre nós mesmos e nos esquecer da sua misericórdia.
Boa reflexão e bom início da Semana, caríssimos. JB