Lc 13, 22-30
“… e há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos”
O Evangelho de hoje nos dá uma impressão de severidade, pois, Jesus não responde à pergunta que Lhe foi feita: “Senhor, são poucos os que se salvam?”, Ele não diz se são poucos ou muitos, somente exorta: “esforçai-vos por entrar pela porta estreita”.
Por que Ele não responde? Por uma preocupação de amor. Quem Lhe pergunta se os salvos serão poucos se coloca num plano teórico, de especulação, e Jesus não quer deixá-lo nesta atitude estática, a atitude de quem não quer se ocupar e preocupar, só se contentando em olhar de longe.
Jesus quer provocar os seus interlocutores, colocá-los em movimento para que entrem no amor de Deus. Em vez de se perguntar se poucos ou muitos serão salvos, é necessário, e este é o desejo do coração de Jesus, que cada um se esforce por entrar no desígnio de Deus, por corresponder ao amor que o chama: assim os salvos serão muitos.
“São poucos os que se salvam?”. Se Jesus tivesse respondido que “são muitos!”, aquele homem teria se acalmado, dizendo a si mesmo: “os salvos serão muitos! Não é preciso que eu leve isto muito a sério!”; e se, em vez disso, Ele tivesse respondido, “são poucos!”, o sujeito teria ficado bloqueado, falando a si mesmo: “se forem poucos, certamente não serei um deles!” e nele viriam menos a confiança e a generosidade.
Mas Jesus não quer nem a primeira nem a segunda atitude. Ele deseja acender o fogo do amor em nós e nos empenhar a corresponder com todas as nossas forças ao amor de Deus. Não basta comungar Jesus, é preciso estar em comunhão com Ele; não basta ser crente, é preciso ser credível.
Portanto, caríssimos, “esforçai-vos por entrar”. Como escreveu, o saudoso escritor e jornalista italiano Romano Battaglia (1933-2012): “Procurai viver bem porque o minuto presente está repleto de eternidade. A cada hora do dia e da noite, esforçai-vos para embelezar o momento que passa” (Un cuore pulito, 2001).
“Esforçai-vos por entrar”. É a inquietude do amor que faz Jesus dizer isso; pois, se Ele não quisesse que todos nós entrássemos, Ele não falaria assim. E é também a solicitude do amor que O leva a usar palavras severas, que O leva a nos advertir sobre o risco que corremos se não formos fiéis aos sussurros do Espírito em nós.
Jesus nos mostra o que aconteceria, justamente para que não aconteça. E no final parece que Ele deixa transbordar do coração o seu desejo ardente, que vê realizado: “Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus”. Pois é, mesmo na severidade deste Evangelho, nós reconhecemos o Senhor, o seu amor, o desejo da nossa salvação, pela qual Ele veio para morrer.
Boa reflexão, caríssimos. JB