Lc 14,1-6
“É lícito ou não curar ao sábado?”
Este é o segundo episódio em que Jesus questiona o verdadeiro sentido do sagrado descanso do sábado (cf. Lc 13, 11-16).
Desta vez, Ele “entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus, para tomar uma refeição”, mas foi-Lhe oferecida uma “comida envenenada”, isto é, o convite seria mais um motivo para pô-Lo à prova.
Mas, quantos exames e interrogatórios terá que se submeter o Mestre de Nazaré para angariar um mínimo de consenso por parte dos fariseus e doutores da lei?
Ele não se importa, pois está pronto para anunciar a misericórdia do Pai, mesmo na casa daqueles que estão empoleirados na observância externa de uma fé estéril. Pois, estes olham mas não observam, são fiéis à Lei porém não conseguem amar.
Ademais, a lei nunca pode limitar ou impedir o amor, porque o amor de Deus não conhece limites, “é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,10). Portanto, diante da dor daquele hidrópico, Jesus revela a incoerência daqueles que brandem a Lei de Deus como arma, prontos para usá-la como crítica.
Caríssimos, hoje não é assim tão diferente: perante as questões diretas que Deus coloca à nossa consciência, tentamos fugas banais e inúteis “justificações subjetivas e relativas” … com o risco de nos fossilizarmos sempre nos esquemas abstratos, rígidos e nas tradições inveteradas.
Pois, quanto a isto, já dizia Gustav Mahler (compositor austríaco e maestro do século XIX), “a tradição é manter o fogo, não adorar as cinzas”. É doloroso constatar este último, mas Deus é muito mais tolerante do que aqueles que se escondem por detrás de montanhas de regras. Quem não ama de coração peca muito por omissão.
No sábado – dirá Jesus – os fariseus fazem sim as coisas do seu interesse: “… se um filho vosso ou um boi cair num poço, ireis logo retirá-lo”. Por isso Ele deve curar um homem num sábado – “tomou o homem pela mão, curou-o”. Portanto, o sábado não é tão absoluto, aliás “foi feito para o homem, e não o homem para o sábado,… e o Filho do Homem é Senhor também do sábado” (Mc 2,27-28).
Que o Senhor ilumine as nossas mentes e nos torne dóceis ao seu amor, capazes de julgar as coisas sem preconceitos abstratos, com um coração livre, aberto, puro e magnânimo.
Boa meditação, caríssimos. JB