2Mac 12,43-46; 2 Cor 5, 1.6-10; Jo 11, 21-27
“Eu sou a ressurreição e a vida”
No prolongamento da Solenidade de Todos os Santos, hoje a Igreja com o seu amor maternal abraça todos os mortos da história, em particular todos os fiéis defuntos, confiando-os à misericórdia do Pai.
A liturgia hodierna, porém, não contém em si o espaço para o choro. Na verdade, depois da partida dos nossos entes queridos deste mundo, deles nos lembramos não da morte, mas sim, com a fé e esperança, da sua ressurreição. Portanto, hoje é o dia da vida.
De fato, a Igreja faz coincidir a festa de um santo com o dia da sua morte – “dies natalis” – o dia do seu nascimento para o céu. Desta forma, se celebra a passagem do caráter provisório da existência para a vida eterna.
No entanto, a morte dum crente nos ensina muitas coisas sobre a vida. No decorrer da vida, cada um de nós pude deparar com o evento morte: de um ente querido, de um amigo, de um conhecido, etc. Sentimos a sua morte como uma coisa terrível, como uma injustiça. Pois, sentimos irresistível e profundo o desejo de vida, de uma vida que não tem fim nem para o corpo nem para o carinho que nos liga aos nossos entes queridos.
E por isso, Marta, nos prantos, se dirige a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11,21). Mas ela se engana. É verdade, também nós repetimos o mesmo erro ao dizer: “se Deus existe e nos ama, por que a morte do meu avô?”
Caríssimos, Jesus não prometeu aos seus amigos que eles não morreriam. Para Ele, de fato, o maior bem não é uma vida longa, mas a vida eterna. Pois, o homem é imortal desde o dia da sua concepção, de modo que, a eternidade, portanto, entra em nós muito antes de acontecer, e cresce com a vida de fé: “Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá”.
De facto, em Jesus Cristo, a nossa morte foi superada. Ao aceitar a morte como nós e por nós, Ele venceu o pecado, a causa da morte. Ressuscitando-se, Ele derrotou a morte. E o cristão que confia em Cristo sabe que a morte é Páscoa, uma passagem para a vida definitiva em Deus. S. Agostinho diria que a morte é “apenas uma passagem para o outro lado: é como se escondêssemos na sala ao lado”. Portanto, uma passagem para outro lado, onde a verdadeira vida nos espera. Daí que, os que morreram na fé e na graça divina, estão vivos em Cristo, participando para sempre da alegria de Deus (que é Paraíso).
No entanto, Jesus nos avisa: visto que Deus nos fez livres, existe em nós a tremenda capacidade de persistir na recusa do seu amor. E o homem que assim agisse, se colocaria fora da alegria de Deus com as suas próprias mãos, isto é, se condenaria ao inferno, a terrível possibilidade de dizer não para sempre, mesmo depois da morte. Por isso, urge que compreendamos o valor de cada instante da nossa vida cá neste efémero mundo: somos chamados a fazer uma escolha que vai além do momento atual em que vivemos, e que assume um sentido eterno.
Por isso, caríssimos, não vivamos como se a morte não existisse, pois não queiramos morrer como se não tivéssemos existido. A morte é o ato do vivente, somente quem vive pode morrer.
Somos convidados, assim, a fazer um contínuo exame de consciência, verificando as nossas ações quanto elas se identificam na Palavra de Deus. E, “enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como exilados, longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara” (2Cor 5,6). E Jesus expressou isso com estas palavras: “O Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,15). Eis aqui, em síntese, a proposta cristã: converter-se sempre, isto é: acolher a Palavra de Cristo, reconhecer o próprio pecado, retomar com humildade o caminho da santidade, sendo iluminado e guiado por esta mesma Palavra.
Façamos nossa esta expressão de Santa Teresinha de Lisieux: “A vida passa … a eternidade avança a passos largos … em breve viveremos a própria vida de Jesus”. Que o Senhor nos faça olhar para a morte como uma criança olha a porta que se abre para a festa em casa.
Boa meditação, caríssimos. JB