Lc 16, 9-15
“Nenhum servo pode servir a dois senhores…”
Quão clara é esta afirmação de Jesus. Ele nos pede para superar a tentação de “manter em simultâneo um pé em dois sapatos”: ou Deus ou dinheiro. O grande Cardeal guinense Robert Sarah diria: “Deus ou nada”. A meta da vida só pode ser uma, não os ídolos, mas sim o único Senhor amado e testemunhado na concretude da vida.
Pois é, se basearmos a nossa existência em coisas, elas nos afundam; em vez de criar comunhão e solidariedade, criam divisão, autoproclamando-se nosso “deus”, elas se tornam o nosso imediato túmulo, e nós como escravos à beira da morte.
Além disso, como dizia alguém, “o verdadeiro ateu é aquele que diz, ‘eu sou o dono do mundo, não Deus’”. Assim, os bens podem nos separar de Deus e dos outros e se tornar a causa de guerras, injustiças e opressões.
Caríssimos, “não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. O dinheiro e todos os outros bens materiais são apenas meios para crescermos no amor. E o Papa Francisco acrescenta: “a fidelidade a Deus não se negocia” (Meditação matutina, Domus Sanctae Marthae, 18.11.13).
Os bens que possuímos não devem ser demonizados, mas também não devem ser absolutizados. Em particular, o dinheiro que em si é neutro: não é mau e nem é bom, tudo depende do uso que fazemos dele. Se ab-usarmos (mau uso) dele, ele pode se tornar o verdadeiro ateu, um ídolo cruel, porque, não mais conhecendo Deus, se alimenta da carne dos outros: mata com a indiferença e arrogância, a ponto de se alimentar com o coração dos pobres.
E disto, S. Paulo já tinha admoestado ao jovem bispo Timóteo: “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,10). Se começa por falar e desejar alguns euros; depois, se pensa em “deus” dinheiro dia e noite, tornando-se num bem que se procura fechar numa prisão dourada e sufocante.
Aos poucos, os amigos vão se perdendo porque se sentem usados; ou melhor, eles próprios se vão embora porque não se fala mais de algo que não seja dinheiro, ou eles próprios tirarão vantagem da nossa temporada de prosperidade, para se afastarem quando chegarmos ao túmulo da vida.
Sendo assim, não haveria outra saída senão fazermos da sobriedade e da solidariedade a lei da vida; pensarmos no plural e amarmos o próximo, sobretudo aquele “com o vil dinheiro”, para que possamos ser por ele recebido às portas das “moradas eternas”. Ademais, a riqueza promete o que não pode cumprir, porque não pode saciar a sede do coração.
Por isso, caríssimos, somos chamados a servir a Deus, usando, se tivermos, o dinheiro. Que haja sempre um “prato” a mais nas nossas mesas.
Boa meditação e bom fim de semana, caríssimos. JB