Lc 17,1-7
“Se teu irmão cometer uma ofensa, repreende-o, e, se ele se arrepender, perdoa-lhe”
Hoje o Evangelho nos apresenta Jesus muito severo e ao mesmo tempo muito indulgente. Ele diz “ai daquele que provoca os escândalos. Melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma mó de moinho e o atirassem ao mar”; no entanto, também diz: “se teu irmão te ofender sete vezes num dia e sete vezes vier ter contigo e te disser: ‘Estou arrependido’, tu lhe perdoarás”.
Na vida estamos sempre em condições de assumir atitudes opostas, e somente a sabedoria pode nos levar a fazer o discernimento correto. Caso contrário, a atitude que nos é natural é exatamente oposta às atitudes que o Evangelho nos propõe.
É claro que somos indulgentes connosco mesmos, e quando causarmos escândalo, nem mesmo nos apercebemos, ou melhor, nos tranquilizamos dizendo que não há absolutamente nenhuma razão para nos preocuparmos.
Temos tantos bons motivos para fazer o que queremos, até mesmo fazer com que o escândalo nos pareça algo irrelevante. Porém, somos muito rígidos quando a coisa diz respeito ao nosso interesse, à nossa dignidade. Se alguém pecar contra nós, isso se torna uma coisa do outro mundo: não podemos perdoar porque não queremos, e não conseguimos nos esquecer.
Verdadeiramente, as oposições que existem em nós são revertidas com respeito às pessoas certas, e somos tolerantes com o que o Senhor julga severamente, ao passo que somos severos com as coisas que Ele considera com tolerância.
Caríssimos, devemos suplicar a Deus com muita perseverança o dom de saber julgar as coisas com discernimento, porque esta é a única saída. Devemos corrigir continuamente a nossa forma de julgar: isso é fundamental, porque se os nossos juízos estiverem errados, continuaremos a errar também nas nossas ações.
Ademais, quem somos nós para julgar os outros (cf. Papa Francisco, Incontro com os Jornalistas durante o voo de regresso da Visita Ap. ao Brasil, 28.07.13), e com agravante, sem perdão? Pois, “se teu irmão te ofender sete vezes num dia … tu lhe perdoarás”.
Pois, se, por outro lado, tentarmos julgar segundo o critério do Senhor, também podemos cometer erros, mas vamos perceber isso imediatamente e nos corrigir gradualmente, com a ajuda d’Ele.
O Livro da Sabedoria diz: “a sabedoria é um espírito amigo dos homens” (Sab 1,6). Isto já é muito confortante: este espírito nos guia com suavidade e força, e nos ensina o caminho para chegar a Deus e encontrar forma justa de nos relacionarmos com os outros.
“A sabedoria é um espírito amigo dos homens”. Nós o experimentamos quando refletimos diante do Senhor: se nos colocarmos nas alçadas da sabedoria, ela nos inspira coisas boas, que talvez ao início podemos ficar perplexos, todavia sentimos serem para o nosso verdadeiro bem.
O saudoso teólogo holandês Henri Nouwen (1932-1996) dizia: “Quando vivemos como se as relações humanas fossem apenas de natureza humana e, portanto, sujeitas a transformações e a mudanças e normas e costumes humanos, não podemos esperar nada além da imensa fragmentação e alienação que caracteriza nossa sociedade. Mas quando apelamos a Deus e constantemente O reivindicamos como a fonte de todo amor e sabedoria, descobriremos estes dons como um presente de Deus ao povo de Deus”.
Portanto, pedindo ao Senhor esta sabedoria divina para colocar nas nossas vidas a luz certa da sua Palavra, ao invés daquelas luzes enganosas das nossas inclinações naturais, digamos também: “Senhor, aumenta a nossa fé”.
Boa reflexão e bom início da Semana, caríssimos. JB