Dedicação da Basílica S. João de Latrão [Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversário da dedicação desta basílica, construída no ano 314 pelo imperador Constantino. Inicialmente foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à Igreja de rito romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada “a igreja mãe de todas as igrejas da Urbe e do Orbe” e como sinal de amor e unidade para com a Cátedra de Pedro que, como escreveu S. Inácio de Antioquia, “preside à assembleia universal da caridade”].
Jo 2, 13-22
“Fez um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo”
Jesus com “um chicote de cordas” nas mãos, pois d’Ele ninguém esperaria isto! Afinal, além de saber dizer “sim sim, não não” (Mt 5,37), Ele também usa gestos e palavras de fogo: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio!”.
Ele não se resigna diante das coisas, deixando-as como estão, portanto, quer mudar a fé, e com a fé, o mundo. E o faz com gestos proféticos, não com uma bondade genérica.
Talvez uma hora depois do seu gesto provocativo, os vendedores, tendo recuperado as pombas e as moedas, terão reocupado as suas posições. Tudo como antes?
Não, o gesto de purificação de Jesus chegou até nós. Abalou os guardiões do templo, e também nós, advertindo-nos do risco de fazermos um mercado de fé, apelando-nos ao culto autêntico e à correspondência entre a liturgia e a vida.
Jesus expulsa os vendedores porque a fé foi monetizada, Deus se tornou objeto de mercado. Os espertos abusam-no para ganhar a vida neste efémero mundo, e os devotos usam-no para ganhar o Paraíso, a salvação.
Ao expulsar os animais para o sacrifício do templo, Jesus antecipa o que acontecerá na Cruz, isto é, o seu sacrifício na cruz, que ocupará o lugar de todos sacrifícios de animais oferecidos pelo homem a Deus. Ele não nos pede mais sacrifícios, mas se sacrifica por nós; não espera nada de nós, dá tudo por nós: “Misericórdia quero, e não sacrifícios” (Mt 9, 13).
Sendo assim, o templo, lugar de encontro com Deus, lugar sagrado, é adulterado, alterado pelo mal, deus-dinheiro! E, portanto, de Jesus, não podemos esperar outra coisa senão este grito: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio!”.
Saibas disto, caríssimos: a Igreja se tornará bela e santa, não se aumentar os seus recursos financeiros, mas se se tornar uma Igreja serva, “igreja do avental”, como dizia o saudoso Bispo italiano Dom Tonino Bello (1935-1993), prestes a ser beatificado.
O santo templo de Deus são os pobres, diante dos quais devemos tirar os sapatos como Moisés diante da sarça ardente (cf. Ex 3,5). O templo é também cada um de nós (cf. 1Cor 3,17), feito à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26), e aqui está a nossa dignidade, a de cada homem, cada mulher, filhos e filhas de Deus que vivem neste mundo, casa de Deus para sempre.
Disto, São Cesário de Arles, no seu Sermão 229,1-3, nos alerta: “Visto que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para Si, quanto pudermos, esforcemo-nos com seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. (…) Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus”.
Que o Senhor não permita que a ganância de possuir dinheiro e bens prevaleça em nossa vida a ponto de destruir a sua sacralidade; e faça com que, no Seu templo que somos nós, prevaleça, antes de tudo, a prioridade aos espaços de oração por uma vida digna deste nome.
Boa meditação, caríssimos. JB