Lc 19, 45-48
“… Jesus entrou no templo e começou a expulsar os vendedores…”
Depois de ter vertido lágrimas pela cidade de Jerusalém (evangelho de ontem), hoje, o Senhor entra no templo e expulsa aqueles que ali faziam negócios: “a minha casa é casa de oração; e vós fizestes dela um covil de ladrões”.
Os cambistas de então substituíam as moedas dos peregrinos que chegavam de todos os cantos do Império pelas moedas cunhadas pelo Templo. Outros vendiam animais para o sacrifício, quais bois, ovelhas, rolas. Tal mercado, porém, era administrado pelos fariseus, com muitos conflitos de interesse.
Eis a causa da reação de Jesus. O templo, lugar de encontro com Deus, lugar sagrado, é adulterado, alterado pelo mal deus-dinheiro! E, portanto, d’Ele, não podemos esperar outra coisa senão este grito: “a minha casa é casa de oração; e vós fizestes dela um covil de ladrões”.
Ainda acontece hoje, pois, a fé vem abordada de forma semelhante: com a ideia de obter de Deus um seguro de vida, ou uma proteção contra doenças. Todavia, não se negoceia com Deus. Ele é Pai e, como Pai, conhece na profundidade as nossas necessidades… Somente uma oração “de filho” permite filtrar as verdadeiras das falsas necessidades.
Portanto, fora os comerciantes da Igreja. Esta se tornará bela e santa, não se aumentar os seus recursos financeiros, mas se se tornar uma Igreja serva, “igreja do avental”, como dizia o saudoso Bispo italiano Dom Tonino Bello (1935-1993) prestes a ser beatificado. Por isso, o santo templo de Deus são os pobres, diante dos quais devemos tirar os sapatos como Moisés diante da sarça ardente (cf. Ex 3,5). Daí que a Igreja teria a cumprir duas ações de Jesus: fora os comerciantes, dentro os pobres.
A respeito disto, nos vem encontro o sermão de São João Crisóstomo (arcebispo e teólogo bizantino, anos 349-407), que dizia: “Desejas honrar o corpo de Cristo? Não o ignores quando Ele está nu. (…). Que importa se a mesa eucarística está lotada de cálices de ouro quando teu irmão está morrendo de fome? Comeces satisfazendo a fome dele e, depois, com o que sobrar, poderás adornar também o altar” (Homilia, in Evangelium S. Matthaei).
O templo é também cada um de nós (cf. 1Cor 3,17), feito à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26). O templo de Deus é a carne do homem. Todo o resto é decorativo. Deus vive em cada homem. Passamos da beleza das paredes à santidade dos rostos, à pureza dos corações.
Que o Senhor não permita que a ganância de possuir dinheiro e bens prevaleça em nossa vida a ponto de destruir a sua sacralidade; e faça com que, no Seu templo que somos nós, prevaleça, antes de tudo, a prioridade aos espaços de oração por uma vida digna deste nome.
Boa meditação, caríssimos. JB