S. Nicolau (séc. III-IV)
Lc 5,17-26
“Homem, os teus pecados estão perdoados”.
Uns homens carregaram um paralítico nos ombros para o levar até Jesus e pedir um milagre. O paralítico que não movia mais as pernas sentia-se como se estivesse voando.
E eis a frase inesperada: “homem, os teus pecados estão perdoados”. Na verdade, o milagre não é fruto da sua fé, mas sim dos homens que o levaram, como nos diz o Evangelho, “ao ver a fé daquela gente”.
Tais homens, do paralítico, só podem ser seus amigos: movidos pela força de quem ama e confia, escalaram a multidão, inventaram uma estrada que não existia, danificaram uma casa “e, através das telhas, desceram-no com o catre, deixando-o no meio da assistência, diante de Jesus”.
“Homem, os teus pecados estão perdoados”: o paralítico é perdoado pela fé dos outros. O que a fé dos nossos irmãos, movida pelo amor, não faria por nós! Pois, esses amigos são o ícone da Igreja que carrega os fardos dos outros em vez de apenas reiterar conceitos. Portanto, estamos diante da importância da fé não só como compromisso pessoal, mas como luminosa realidade comunitária.
“Homem, os teus pecados estão perdoados”: um perdão não solicitado, pois, não há acusação de pecados, não há expiação da culpa e nem há penitência. Só há um convite para pegar a enxerga, a odiada prisão, e ir em liberdade – “Eu te ordeno: levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa”. Tornou-se realidade o que disse Isaías: “o paralítico saltará como um veado” (Is 35,6).
“Quem é este que profere blasfémias? Não é só Deus que pode perdoar os pecados?” E isso escandaliza a elite de então (fariseus e doutores da Lei) e de todos os tempos. Diriam eles “se é preciso tão pouco para ser perdoado, se o perdão é concedido gratuitamente, sempre, então como se consideraria as leis importantes?”
Mas as leis não são uma dívida a pagar a Deus, mas sim o que permite ao homem caminhar para Deus que vem nos salvar. Na verdade, nos diz S. Paulo, “a Lei foi como um educador que nos conduziu até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé” (Gal 3,24).
Chegamos a Cristo, e isto nos basta, como dizia S. Ambrósio: “Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, Ele é o médico; se estás a arder de febre, Ele é a fonte; se estás oprimido pela iniquidade, Ele é a justiça; se precisas de ajuda, Ele é a força; se temes a morte, Ele é a vida; se desejas o céu, Ele é o caminho; se estás nas trevas, Ele é a luz… bem-aventurado é o homem que nele depõe a sua esperança” (De virginitate, 99).
Por isso, caríssimos, este tempo de graça que vivemos nos convida a aprofundar o nosso caminho de fé, a nos solidarizar com os outros neste mesmo caminho. Que o Senhor aumente a nossa fé!
Boa meditação e bom início da Semana, caríssimos! JB