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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

III DOMINGO DO ADVENTO – ANO C

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Sof 3,14-18a; Filip 4,4-7; Lc 3,10-18

E nós, o que devemos fazer?

 

Na liturgia deste domingo, Deus nos convida à alegria pela vinda de seu Filho, alegria que se concretiza no amor, na justiça e na comunhão.

E disto, o profeta Sofonias in primis exorta a “filha de Sião”, Israel, a dar carta branca à sua própria felicidade: “clama jubilosamente,… solta brados de alegria, Israel… exulta, rejubila de todo o coração, filha…” (Sof 3,14), porque Deus, o Senhor misericordioso, libertou o seu povo e estabeleceu a sua presença no meio dele: “o Senhor, rei de Israel, está no meio de ti… o Senhor teu Deus está no meio de ti…” (Sof 3,15.17). Uma presença eficaz que o fortalece contra todo o medo e o desânimo: “não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos” (Sof 3,17).

O convite à alegria é retomado com vigor por São Paulo quando afirma, “Irmãos: Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos” (Filip 4,4). É de salientar que aqui não se fala de qualquer alegria, mas sim a exultação “no Senhor”, porque Ele “está próximo” (Filip 4,5); não é uma alegria egoísta, indiferente e individual (se assim o podemos dizer, ademais seria estranha uma felicidade solitária), mas a alegria na caridade, e isto nos confirma ainda Paulo, “seja de todos conhecida a vossa bondade (benevolência, generosidade, caridade)”, portanto, uma alegria comunicativa, caritativa e comunitária.

E sobre isso, Madre Teresa de Calcutá, Santa da caridade, já dizia, “alegria é amor em ação”.  Assim, amor e alegria são irmãos gêmeos, pois eles testemunham, de modo credível, que o nosso Deus é Amor e Alegria, e que o Cristianismo é essencialmente a religião do amor e da alegria. E nos convidando, por isso, a não optar por viver uma Quaresma sem Páscoa, mas sim fazer, como cristãos, resplandecer a alegria nos nossos rostos, Papa Francisco afirma o seguinte: “compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias” (Exortação ap. Evangelii Gaudium, 6). Daí que, para nós, a alegria – como o amor – é um dom, mas ao mesmo tempo um compromisso, uma responsabilidade que envolve todo o nosso ser para com Deus e os irmãos.

E é com esta intenção de restituir essa alegria às multidões, para a libertação e salvação de Deus em Cristo, Messias que está a chegar, que, no Evangelho, João Baptista apela à conversão. João exorta a concentrar toda a nossa espera e atenção sobre o Messias, dizendo “Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”. Ou seja, Ele vai nos “imergir” no Espírito Santo, que é a vitalidade infinita de Deus, seu amor que purifica, transforma e regenera o homem, unindo-o intimamente ao próprio Deus. E as palavras de João suscitam inquietação entre “as multidões”, “alguns publicanos” (cobradores de impostos, considerados pecadores públicos), “os soldados” (de origem pagã e, por isso, considerados ‘distantes de Deus’).

Profundamente abalados, compreenderam que conversão é regressar ao Senhor e orientar o coração inteiramente a Ele, e isso deve acontecer de forma muito concreta. Por isso, se dirigem a João, lhe perguntando: “O que devemos fazer?” Poderiam muito bem dizer: “Que linda homilia!”, “Belo sermão!”, “É interessante, a tua pregação!”.  Em vez disso, foram mais longe, questionando-se a si mesmo: “O que devemos fazer?” Ou seja: “Como posso deixar de ser o mesmo de antes?”, “Como posso mudar a minha vida?”.

E “o que devemos fazer?” A todos é dada a oportunidade de se converter, isto é, de fazer uma mudança concreta na própria vida, dando espaço no coração a Deus através do amor concreto para com o próximo em todos os âmbitos e em todas as relações: às multidões, uma proposta que se aplica a todos: “quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo”;  aos publicanos e soldados, João repete a mesma mensagem, mas de forma negativa: “não exijais nada além do que vos foi prescrito”, “não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo”. Ou seja, três respostas para um mesmo programa: de construir um mundo da fraternidade, de edificar uma terra da qual nasça a justiça, e de refazer a união entre os homens.

E nós, o que devemos fazer?” Em suma, caríssimos, a resposta de Baptista é clara e concreta: nenhuma profissão nos exclui da salvação e nada do que fazemos nos coloca fora da salvação. E não se trata de mudar de emprego, mas sim da forma de o exercer. Porque não importa o que tu fazes (certo que se fala de trabalho legal e lícito!), mas como o fazes; não importa nem o que tens, mas como o tens, como o usas, essencialmente o que tu és, a qualidade das suas ações: com quanta justiça, empenho, humanidade, com que paixão e autenticidade desempenhas a tua tarefa?

Por isso, caríssimos, em qualquer lugar onde formos chamados a viver, na humilde vida quotidiana, lá devemos ser alegremente homens e mulheres de justiça e de comunhão. É este é o nosso desafio. Que o Senhor, por meio do seu Espírito, nos ilumine para que possamos, todos os dias, testemunhar com alegria a sua Palavra.

Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù de Adventù da tudu nancê”. JB