Miq 5, 1-4a; Hebr 10, 5-10; Lc 1,39-45
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”
Como vedes, a cada dia que passa, estamos nos aproximando do Natal do Senhor. Toda a liturgia de hoje nos conduz ao mistério do iminente Natal. No Salmo, escutamos o grito sempre presente de uma humanidade oprimida e sofredora que implora ao seu Pastor que lhe venha socorrer: “Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto, e seremos salvos” (Sl (80,4). Um grito que se torna uma invocação: “Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio… protegei a cepa que a vossa mão direita plantou… fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome” (Sl 80,3.16.19). A este grito amargurado, a palavra do profeta Miqueias responde: “de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel” (Miq 5,1). Ele irá restabelecer a unidade do povo, santificando-o e fazendo a vontade do Pai.
O Evangelho vai mais longe, nos revela como se deu a vinda do Messias e o mistério da redenção contida nela. A pessoa de Maria, a sua fé, o seu “sim” e a sua maternidade são os caminhos escolhidos por Deus para visitar e levar a salvação a todos os homens. Sim, é Ele o esperado há séculos que ela carrega no seu seio. Não como um tesouro a ser guardado com zelo, mas como um sagrado depósito que lhe foi confiado. E Maria, nesta expectativa, se torna um exemplo de como o crente deve esperar pelo Senhor. Uma expectativa que leva à caridade e à solicitude para com a idosa prima Isabel.
Como escreve Lucas no seu evangelho: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria… ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?’”. Foi um encontro espiritual e profundo, como então afirmou Papa Bento XVI, “representa com grande simplicidade o encontro do Antigo Testamento com o Novo. As duas mulheres, ambas grávidas, encarnam de facto a expectativa e o Esperado. A idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias, enquanto que a jovem Maria traz em si o cumprimento desta expectativa, em benefício de toda a humanidade” (Angelus, 23.12.2012).
Isabel, portanto, além de acolher Maria com gratidão e confiança, reconhece que se está a realizar a promessa de Deus à humanidade, sentindo na sua jovem prima a presença de Deus: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. E repetimos as palavras de Isabel sempre que recitamos a Ave Maria. Mas a expressão “bendita és tu entre as mulheres” refere-se no Antigo Testamento a Jael (Jz 5,24) e a Judite (Jd 13,18), duas mulheres guerreiras que se preocupam por salvar Israel. Agora, ao contrário, dirige-se a Maria, jovenzinha pacífica e crente que está para gerar o Salvador do mundo.
Sendo assim, Maria é verdadeiramente “bem-aventurada” porque, como escreve o Evangelho, “acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor”. E esta deveria ser a mensagem que cada um de nós pode descobrir para louvar ao Senhor diante do testemunho de tantos homens e mulheres que manifestam nas suas vidas a fé forte de quem só espera em Deus.
Caríssimos, Maria se preparou para o Natal, acolhendo sobretudo a palavra do anjo; poderíamos dizer: ela escutou o Evangelho, guardou-o e colocou-o em prática, portanto, começou para si uma nova vida. A partir de agora, com toda a sua existência, ela vive na Palavra, de modo que todo o seu pensamento, a sua vontade e a sua ação sejam permeados e formados pela Palavra, tornando-se assim a nova Casa da Palavra no mundo.
Maria e Isabel nos ensinam a não olhar apenas para as nossas pequenas vidas, para os nossos pequenos problemas pessoais. Se a nossa vida está cheia de problemas, se a nossa vida está oprimida pela dor, ainda podemos deixar que o Menino esperado possa fazer o nosso coração exultar de alegria. Exultemos de alegria porque Deus salva o mundo também por nosso intermédio; porque, apesar de tudo, o Senhor cumpre o seu desígnio de salvação.
Por isso, desde já, imitemos Maria no tempo de Natal, visitando quantos vivem em dificuldade, em particular os doentes, os presos, os idosos e as crianças; imitemos também Isabel que acolhe o hóspede como o próprio Deus: sem o desejar nunca conheceremos o Senhor, sem o esperar não o encontraremos, sem o procurar não o descobriremos. Com a mesma alegria de Maria que vai à pressa ter com Isabel, vamos também nós ao encontro do Senhor que vem.
Boa meditação, caríssimos e “uwã santù djàgingù de Adventù da tudu nancê”. JB